terça-feira, 12 de julho de 2016

Curtas Vila do Conde #4: Severed Garden


 
Hoje, entre os vários filmes exibidos, e além de alguns que repetirão e que por aqui já referenciei (casos de El Edén e Crystal Lake), o Curtas exibe Severed Garden (2015), de Gonçalo Almeida, filme que muito me entusiasmou e que deixa um lastro auspicioso para o realizador, como o meu texto para o catálogo testemunha.
 
***
 
"Filme intrigante e prometedor aquele que Gonçalo Almeida – estreante em Vila do Conde – traz ao Curtas, um thriller onírico (e de “zombies”, embora obviamente afastado das convenções do género) sempre em contenção, sempre no limiar da loucura, sobre os receios e os traumas de uma mulher prestes a dar à luz. De sonho em sonho – de pesadelo em pesadelo, melhor dizendo –, vamos submergindo, por vezes sem saber distinguir entre realidade e alucinação (con-fusão favorecida pelo facto de a personagem principal lidar com a matéria dos seus sonhos na sua vida profissional), na perturbada psique de Sophie (Elisa Lasowski, tão talentosa quanto magnetizante, e não é só pela beleza), naquela que não deixa de ser uma abordagem freudiana às paranóias e recalcamentos que o indivíduo possui por debaixo da carapaça da normalidade aparente do dia-a-dia, e que aqui confluem para uma obsessão com a morte, aspecto particularmente sinistro e simbólico num momento em que Sophie se prepara para gerar uma nova vida.
 
Com uma fotografia magnífica e banda-sonora a condizer, Almeida filma com sobriedade e, sobretudo, com uma noção de ritmo notável, deixando o filme transpirar o ambiente espectral para o espectador e sabendo aproveitar o trabalho extraordinário da actriz principal, que, apenas com o seu rosto (mais meia dúzia de palavras e gestos), consegue encher o ecrã. Não fosse o facto de o filme abrir e fechar da mesma forma e diríamos que todo ele é um enorme pesadelo – e não será a maternidade, afinal, o pesadelo de Sophie?" 

Sem comentários: