quinta-feira, 4 de dezembro de 2025


Um aspecto interessante, porque inusitado, em Keeper é o modo relativamente insistente como Osgood Perkins ocupa, em determinados planos, metade da imagem (por vezes um pouco mais) com um elemento (um objecto, corpo, uma parede, ou algo simplesmente indefinível) em desfoque, criando uma superfície que, lisa e escura, mancha – melhor, perturba, como uma presença forçada - a secção em foco (mas não aplicando, o gesto aqui é mais orgânico e sofisticado, o split screen). O exemplo do plano acima nem será dos melhores, mas simplesmente o que de mais aproximado se encontra na net.

São estes, e não os planos “arquitectónicos” (mato em tudo o que é horror film, mais ou menos “de autor”, dos últimos 15 anos), que mais chamam a atenção num filme cujos primeiros 40 minutos, pese embora as marcas de género (a “viagem”, a “casa”, etc.), são deveras entusiasmantes pelo não alinhamento com o guião habitual. Durante esse período, sobretudo não se tendo lido a sinopse (religião que há muito professo), as cenas no interior da casa parecem reconduzir o filme, afinal, para um estudo relacional do casal e do seu estranhíssimo, até indecifrável, mal-estar (nomeadamente, o do elemento feminino, as suas expectativas e traumas). Pena que depois a coisa encarreire num simbolismo folk e forçadamente (ou superficialmente, que vai dar ao mesmo) feminista, como, também no terror, é o prato do dia (o Men de Alex Garland, panfletário logo no título, há-de ser o filme charneira deste filão).

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