Um aspecto interessante, porque inusitado, em Keeper é o modo relativamente insistente como Osgood Perkins ocupa, em determinados planos, metade da imagem (por vezes um pouco mais) com um elemento (um objecto, corpo, uma parede, ou algo simplesmente indefinível) em desfoque, criando uma superfície que, lisa e escura, mancha – melhor, perturba, como uma presença forçada - a secção em foco (mas não aplicando, o gesto aqui é mais orgânico e sofisticado, o split screen). O exemplo do plano acima nem será dos melhores, mas simplesmente o que de mais aproximado se encontra na net.
São estes, e não os planos “arquitectónicos”
(mato em tudo o que é horror film, mais ou menos “de autor”, dos últimos 15
anos), que mais chamam a atenção num filme cujos primeiros 40 minutos, pese
embora as marcas de género (a “viagem”, a “casa”, etc.), são deveras entusiasmantes
pelo não alinhamento com o guião habitual. Durante esse período, sobretudo não se
tendo lido a sinopse (religião que há muito professo), as cenas no
interior da casa parecem reconduzir o filme, afinal, para um estudo relacional do casal
e do seu estranhíssimo, até indecifrável, mal-estar (nomeadamente, o do elemento
feminino, as suas expectativas e traumas). Pena que depois a coisa encarreire num simbolismo folk e forçadamente (ou superficialmente, que vai dar ao mesmo) feminista, como, também no terror, é o prato do
dia (o Men de Alex Garland, panfletário logo no título, há-de ser o filme charneira deste filão).
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