sábado, 25 de dezembro de 2010

schnee



(Blu & Exile - "Seasons")

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

a impessoalidade já existia quando deixámos de embrulhar os presentes em casa, com papel bonito e especialmente arranjado para o efeito, e passámos a fazê-lo em filas intermináveis nas próprias lojas onde compramos o presente.
mas agora ela tocou no fundo: não só nos deixamos quedar, atordoados, nessas mesmas filas, como também nos convidam a preencher, ali mesmo, com uma caneta gentilmente cedida pela funcionária, o de e o para constantes da etiquetazinha que, qual atestado de afectuosidade natalícia, colamos no papel de embrulho.
saímos e já nada mais há a fazer com aquele presente, o processo está concluído. agora é só entregá-lo - já que não o damos nem oferecemos -, como se entrega uma pizza ou uma carta de correio.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

greve geral

(texto publicado no Jornal Tribuna nº 27/Dezembro de 2010, papel impresso)

Eram dias bons, esses.

A excitação começava uns dias antes, quando ouvíamos as notícias na televisão ou quando os pais comentavam à mesa. Perguntavam-me

E na tua, também vão fazer, filho?

Como nem na escola tinham a certeza, eu nunca dava uma resposta segura aos meus pais. Dizia sim, pai, talvez, a menina do PBX disse que ia fazer.

Enquanto isso, o dia aproximava-se. Até lá, tudo se passava como se nada existisse, embora a verdade fosse outra. Sentia-se uma atmosfera de ligeira sublevação que, para ser ainda mais provocadora para as nossas pueris cabeças, nunca era confirmada ou desmentida pelos funcionários.

É verdade aquilo de quarta, menina?

A resposta vinha sempre descontraída, indiferente

Não sei de nada. Vá, toca a andar, que há mais gente na fila para dar a senha!

Então íamos jogar à bola, um “meiinho” rápido ou até um joguinho de 10 minutos (suficiente para nos deixar a suar em bica, mesmo nos dias mais gelados), se a professora era a de Inglês, que chegava sempre depois do toque dos dez minutos, ímpeto normativo superior que tantas vezes era contrariado pelos próprios a quem a garantia se destinava: os professores, tão sequiosos de ter os alunos a horas na sala de aula.

Sempre há ou não na quarta feira?

Perguntávamos, entre uma finta à Ronaldo (o brasileiro, o melhor) e uma zaragata breve com um dos mânfios da moda lá da escola (eles iam e vinham, conforme o élan formado por circunstâncias várias que não vale a pena enunciar; no outro dia passou um por mim que me reconheceu, e não desfez o rosto ameaçador que me dispensava em tempos antigos).

Acho que sim, a mãe do Rui Pedro disse-lhe que sim, por isso ela não ia estar a mentir para nada.

O Rui Pedro era outro miúdo lá da escola e a sua mãe uma das funcionárias mais simpáticas. Trabalhava no bar, tinha uns olhos azuis quase transparentes e um sorriso generoso nos lábios quando nos dava o lanche misto (prensado, menina, e por favor não se diz?, ah, bem me parecia) ou a bola de berlim. O Rui Pedro era um craque, chegou a jogar no Boavista e perdeu-se (ou o futebol perdeu-o a ele, que interessa isso agora) como tantos outros prodígios na noite, nas miúdas e nas farras. Fez bem, penso para mim agora. Jogar futebol a sério num clube com 13, 14 anos, é um compromisso pelo qual algumas pessoas adultas nunca passaram.

Mas a busca não cessava. Falava-se com amigos de outras escolas

Vão fazer na tua?

Não se sabe, e na tua?

Também não.

Nenhum de nós sabia, e os funcionários que sabiam ficavam mudos e quedos. Havia um acordo tácito entre eles de não nos revelar o que aconteceria na quarta-feira (pena ser na quarta e não na quinta em que tínhamos o dia todo com aulas, quem é que marcou isso para quarta?) e que lhes dava um certo ar de grupo, de união, de tribo, embora nunca como nossos inimigos. Connosco tudo aquilo parecia uma brincadeira do gato e do rato, embora pressentíssemos que eles guardavam segredo por alguma razão deveras importante. Mais estranho ainda, não os víamos juntos, conversando e arquitectando silenciosamente o dia D, mas, pelo contrário, agiam todos naturalmente, sorridentes e antipáticos como sempre, conforme os havia.

Chegava a véspera. Saíamos às 18h30, um frio de morrer, uma multidão de rapazes e raparigas em alvoroço despedindo-se com a incerteza de se verem no dia seguinte, facto causador de extrema excitação. O mundo era, naquela altura, tão pequeno para nós, e ao mesmo tempo tão estável e certo, que apenas uma dúvida, uma incerteza, uma ambiguidade minúscula como esta - sobre o que é que iríamos fazer no dia seguinte - nos deixava num frenesim tremendo. Era o nosso cândido mundo a ser desafiado por uma força estranha que, pela primeira vez, nos mostrava que por algum motivo não palpável – e que não passava pela superior vontade dos nossos pais - poderíamos sofrer uma alteração no nosso quotidiano que não conhecíamos nem dominávamos. À noite, para adormecer, irrequieto. Trocavam-se algumas mensagens (sim, já estamos por esta altura na época em que as pessoas não nos olham nos olhos enquanto falamos com elas por estarem a escrever mensagens) com os amigos mais próximos a saber de alguma boa nova… mas nada: a dúvida persistia, essa terrível e fina hesitação sobre o que se avizinhava corria como adrenalina extra nos nossos corpos franzinos.

No dia seguinte, o mesmo de sempre: cadeado a sete chaves e nem uma vivalma no interior da escola. Se as aulas começavam naquele dia às 8h30, ainda era possível assistir a alguma confusão: pais e filhos inundando a rua, carros mal estacionados e buzinões, pais que se indignam com a “preguiça” dos funcionários públicos, etc. Se só se chegava à escola mais tarde, o cenário era inexpressivo por completo: ninguém, absolutamente ninguém, se querem fazer perguntas voltem no dia seguinte, murmuravam os cadeados. A escola, com os seus canteiros coloridos à entrada, parecia agora outra, muda e deserta, como se tivesse sido manietada temporariamente por alguém que a conhecia bem, um amigo íntimo, talvez. Inspirava, ainda assim, uma certa força, por ser inocente e alheia às causas do acontecimento do dia, pelo que sempre me pareceu que aquele estado de coisas seria sempre momentâneo. Olhando para ela, sentia-lhe uma vontade invencível de se libertar dos cadeados e abrir novamente as suas portas aos alunos.

No entanto, de uma forma ou de outra, o dia já estava ganho. Por breves momentos, eu ainda reflectia sobre os dias anteriores. Pensava nos rostos indecifráveis dos funcionários e dos professores, nos conluios disfarçados nos vãos de escada que nunca cheguei a ver, no “nim” que todos me haviam dado. Mas era sol de pouca dura, pois havia um dia livre para gastar! Um dia sem aulas, sem intervalos, sem hora para almoçar, sem sair às 18h30 e apanhar o autocarro. Era um pequeno terramoto no nosso quotidiano, dos bons e inofensivos. Como até esse dia a incerteza tinha reinado, naturalmente que nenhum de nós havia feito planos para como passar o dia - ainda melhor, ainda mais libertário e anarca nos parecia! Às vezes, ficávamos pelas redondezas, levando uma bola para nos distrair e despedindo-nos pela hora do almoço. Outras vezes descíamos a avenida, com as mochilas saltando pelo ar nas nossas costas, e íamos até à beira-mar, onde havia um colégio com raparigas bonitas que não estava fechado, ao contrário da nossa escola. Também me lembro de irmos para casa uns dos outros conversar em grupo (os mais precoces sacavam de cigarros “West”, marca que na altura comercializava uns baratíssimos maços de dez cigarros) ou jogar computador. Tudo com uma perfeita sensação de estar a viver fora das regras, de estar a desafiar a normalidade… por um dia. Chegava.

O dia passava e era altura de voltar para casa, esse um desígnio que nenhum terramoto se atrevia a alterar (por enquanto, por enquanto).

Então, filho, sempre foi, não foi? Que fizeste durante o dia?

E contávamos o que tínhamos feito, que nem tinha sido nada de muito especial, mas que ganhava um valor imenso só por pertencer a um dia em branco, um dia que saltara inusitadamente os números do calendário e trocara as voltas à contagem rigorosa do ano civil. Um dia que ficou num buraco negro qualquer (talvez num dos que estudávamos em “Ciências da Natureza”!), sozinho, límpido e bom.

No dia seguinte, a normalidade era reposta, como se os funcionários e os professores a tivessem autorizado de novo a tomar contar do nosso tempo. Quanto a esses, continuavam, um dia depois, exactamente iguais, sem tirar nem pôr. Indagava sobre o que teria mudado para eles no dia anterior, se é que alguma coisa teria mudado. Talvez não, talvez também só precisassem de um dia em branco para brincarem, para se restabelecerem do maquinal dia-a-dia. Retemperadas as forças, e deixados de sobreaviso os responsáveis pela normalidade, voltavam a pôr a escola a funcionar e nós voltávamos a jogar meiinhos e a chegar esbaforidos às aulas e a pedir lanches mistos e bolas de berlim nos intervalos.

Mais tarde, os dias tornaram-se diferentes.

Passaram (passei) a chamar-lhes de “greve”. Ingénuo, procurei saber o que queria dizer e por que razão acontecia. Interessei-me pela matéria e comecei a ter ideias sobre ela. Esses dias deixaram então de ser dias “brancos”, buracos rebeldes nos nossos calendários de crianças, para passarem a ser dias em que homens e mulheres manifestavam o seu descontentamento com a forma como alguns senhores importantes tomavam conta do país. Dias em que homens e mulheres perdiam algum dinheiro do seu salário para se juntarem e reclamarem mais algum dinheiro para o salário de todos. Dias em que milhares de pessoas diziam coisas feias sobre os tribunais, as escolas (sobre a minha escola também!), o governo, o parlamento, os bancos. Dias em que os professores e os funcionários da minha escola não brincavam, como nós.

Tenho pena que o meu crescimento tenha sido na mesma razão em que este país se foi afundando e que os dias brancos, os tais das greves, não tenham servido para os senhores importantes reflectirem. Esses sim, brincaram como nós, com a diferença de pertencerem ao mundo dos adultos, esse espaço tão perfeito e sincronizado aos meus olhos de criança.

O meu mundo e o dos meus amigos de então deixou de ser pequeno e previsível. Não sei o que eles pensam hoje das greves nem quero saber; prefiro continuar-me a lembrar das tardes em que as aproveitávamos para nos divertirmos. Mas eu cresci e por isso o meu mundo também; mas o mundo dos funcionários e dos professores da minha escola, que já era instável e inseguro na altura, está ainda pior.

sábado, 11 de dezembro de 2010

o bom selvagem para as urtigas

Sobre O Idiota, de Dostoiévski (num brasileiro muito mal escrito e por mim retocado - fonte: http://pt.shvoong.com/books/novel-novella/1950663-idiota/):

"Ora, o que torna mais penosa a leitura desse livro, fora as mais de 600 páginas e discussões filosóficas, políticas e econômicas que o autor desenrola com paciência, é o fato de você não suportar a bondade do príncipe e, em certos momentos, se dá conta disso. Ora, ser contra a bondade? Por mais extrema que ela possa ser (o perdão, o amor), certas capacidades humanas de que nós tanto reclamamos a falta, de repente, ultrajam-nos de uma maneira tão vil.

Existiram momentos que eu pensei que o príncipe podia quebrar a cara de um, se vingar de outra, ou mandar uma pessoa para o inferno. E eu queria isso porque, naquele momento, perdoar para mim era um ultraje ao… orgulho. E quando eu me percebi pensando isso, foi aí que eu tive a certeza que o ser humano não tem a capacidade de fazer a bondade de uma maneira plena sem que, para isso, exista muito esforço dele numa renuncia dos instintos que nos controlam disfarçados sob o manto da civilização, seja lá o que isso signifique.

Mas a genialidade de Dostoiévski não está aí. A genialidade está em você, ao final de tudo, perceber que ele mostra que idiotas são aqueles que rodeiam o príncipe, com seus atos contraditórios e egocêntricos, em tudo tão parecidos a nós.

No final você percebe que os idiotas somos nós".

domingo, 28 de novembro de 2010

my beautiful dark twisted fantasy



"hey, teacher, teacher
tell me how do you respond to students?
and refresh the page and restart the memory?
respark the soul and rebuild the energy?"

Mr. West está de volta.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

theophilus




Depois há outro homem - mas com este só tive o prazer de travar conhecimento há pouco tempo - que, se ninguém o parar, pode bem superar o homem do post abaixo e ser um Marvin Gaye, um Michael Jackson ou um Prince deste século.
Chama-se Theophilus London e onde se lê "London" podia ler-se Lisbon, Buenos Aires, New York ou Tokyo.

domingo, 14 de novembro de 2010

runaway



Adoro este homem e (quase) tudo aquilo em que ele mete as suas talentosas mãozinhas.
Parece que depois da música, dos videoclips, da moda, quer começar uma carreira no Cinema, como realizador.

Vai sair coisa boa, pela certa.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

a noite vai ser longa

as mulheres são verdadeiramente machistas quando dizem que os homens são todos iguais.

sábado, 6 de novembro de 2010

dizem que a blogosfera morreu, que já ninguém liga, que já ninguém lê blogs.
pois eu gosto muito e, não sendo propriamente um novato nesta andanças, cada vez leio mais blogs e aprendo e enriqueço com o que os outros pensam, lêem, sentem, escrevem.
ver fotografias do vizinho e da sogra e comentários frívolos a propósito dos ditos também é engraçado (o meu passado aifaiviano obriga-me a reconhecê-lo) - como ir a um cabeleireiro de senhoras (sim, às vezes também vou) e passar os olhos por uma Caras. mas não me digam que isso é capaz de matar o que quer que seja. muito menos blogs. os cabelos cortam-se duas, três vezes por ano, ou não é assim?

isto não é nem pretende ser nenhum manifesto. é só um lamurio de quem gosta muito de ler blogs e que quer dizer aos outros bloggers: não deixem de escrever.

sábado, 30 de outubro de 2010

the last three years



Com interlúdios, nem todos tão doces como este, mas iguais na essência: passagens, transições. No nosso caso, rumo a lugares sucessivamente mais harmónicos, sem o sabermos a princípio, mas agradecidos por tempo indefinido.

1 X 3 = 3 anos

I do




"I Want You", da mixtape editada este ano com o mesmo nome, do genial Theophilus London.

sábado, 9 de outubro de 2010

Nobel

gozam-nos quando dizemos que este é o livro da minha vida, é o meu livro preferido. gozam-nos porque temos 15, 20, 30, 80 anos de vida e uns tantos outros de leitura em que o porvir sempre fará a sua tarefa: mudar, baralhar, apagar, contradizer. certo. então eu corrijo e digo que "Conversa na Catedral", de Mario Vargas Llosa, é o livro dos meus 21 anos de vida neste sítio.

Pouco mais posso fazer do que repetir estas palavras a propósito de Vargas Llosa.
Conversa na Catedral é um livro extroardinário não só pelas realidades sociais e culturais que Vargas Llosa capta, não só por uma narrativa da existência humana de uma meiguice arrebatadora, não só pela construção de personagens densas e dotadas de uma força avassaladora perante as contrariedades da vida (e é neste "sobreviver" anti-miserabilista que me parece residir a influência existencialista de Sartre que todos lhe apontam), não só por um enredo magistralmente empolgante, mas também - e parece-me ser este um aspecto descurado quando se escreve sobre o novo nobel da literaura - por uma técnica narrativa absolutamente ímpar: Conversa na Catedral não é, na verdade, apenas um livro; é também um filme (sim, Cinema) na medida em que Vargas Llosa se mune de uma técnica que, pensava eu até então, só ser possível de utilizar na sétima arte. Estou a falar do discurso indirecto permanentemente entrecortado com diálogos em discurso directo ou da sobreposição de diferentes planos emocionais da personagem sobre a qual está a escrever. Neste último capítulo, há uma passagem particularmente boa: aquela em que durante uns bons parágrafos, Vargas Llosa escreve sobre a personagem (muito dura e misteriosa até final) de Cayo Bermúdez - quando este se encontra numa espécie de comício com as personalidades do regime - observando-o sob três perspectivas diferentes. O Cayo que está naquele momento a falar e preocupado em fazer um bom discurso; o Cayo que está a pensar na amante; e o Cayo amargurado (será mesmo isto?, nunca cheguei a entender claramente) afundado em comprimidos e suores frios. A forma como Vargas Llosa faz isto em Conversa na Catedral, além de revelador de uma mestria singular, cria no leitor uma tensão e ansiedade que não me recordo de sentir em qualquer outro livro.
Mas a técnica "cinematográfica" de Vargas Llosa está também na capacidade de ir saltando entre prolepses e analepses à medida que vai avançando na narrativa, oferecendo ao leitor uma perspectiva profundamente dinâmica, giratória, do que se está a passar, nisto residindo um dos segredos para deixar o leitor mais e mais preso ao livro.

Para mim, aquando da leitura de Conversa na Catedral, não obstante a qualidade do enredo/personagens/motivações/temáticas, o que me surpreendeu profundamente, o que me deixou estonteado, atónito, foi mesmo esta dimensão de tecnicista da palavra de Vargas Llosa.
Por tudo isto, não podia deixar de ficar muito feliz com este prémio e, ingenuamente, senti-lo próximo de mim.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

esperança*

"Façamos o teste! Ponhamos dois homens, numa estrada deserta, caminhando em sentidos opostos: um de Norte para Sul, outro de Sul para Norte. Pois que estou seguro de que, depois das largas passadas que dêem a olhar um para o outro (cada um, primeiro, no horizonte do outro; depois cada vez mais próximos, cada um vendo o outro crescer), no momento em que se cruzam pelo menos acenam com a cabeça. Ou mais até: levantam o chapéu, dizem uma palavra ao outro, perguntam as horas, oferecem água, falam de onde vêem, para onde vão (não só geograficamente, talvez até de etiologia e escatologia!) - seguro é que não se ignoram".

* É a ideia que sempre me assoma quando diante destas palavras (pequeno tesouro que releio de tempos em tempos...). Esperança nos homens, na comunicação, no existir necessariamente com o outro.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

uma mão na cabeça



L' Avventura (1960), Michelangelo Antonioni

Toda esta cena é de uma beleza que me deixa atónito: a paisagem, o silêncio, a representação (e expressão) de Monica Vitti e, por fim, naquele gesto fatal (tão maternal, tão redentor) acompanhado pelo único momento musical da cena, zás!, coraçãozinho onde estás?.
E um segundo zás!: acaba o filme.

sábado, 24 de julho de 2010



Antonioni e Monica Vitti.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

labor

"Quanto àqueles para quem esforçar-se, começar e recomeçar, experimentar, enganar-se, retomar tudo de uma ponta à outra, e mesmo assim ainda ser capaz de hesitar a cada momento, quanto àqueles para quem, em resumo, o trabalho mantendo a reserva e a inquietação equivale a uma demissão, pois bem, não estamos, como é evidente, no mesmo planeta.
(...)
De que valeria a obstinação do saber se ela assegurasse apenas a aquisição de conhecimentos e não, de um certo modo, e tanto quanto for possível, o descaminho daquele que conhece? Momentos há na vida em que a questão de saber se é possível pensar de modo diferente daquele que se pensa e perceber de modo diferente daquele que se vê é indispensável para continuar a observar ou a reflectir. Dir-me-ão talvez que esses jogos consigo mesmo devem permanecer nos bastidores e que na melhor das hipóteses fazem parte desses trabalhos de preparação que se extinguem por si quando produzem os seus efeitos. Mas o que é afinal a filosofia actualmente - refiro-me à actividade filosófica - senão o trabalho crítico do pensamento sobre si próprio? (...) O «ensaio» - que é preciso entender como uma experiência modificadora de si próprio no jogo da verdade e não como apropriação simplificadora dos outros com fins de comunicação - é o corpo vivo da filosofia, pelo menos se ela for ainda hoje o que era outrora, quer dizer, uma «ascese», um exercício de si, no pensamento".

História da Sexualidade - II: O Uso dos Prazeres, Michel Foucault

terça-feira, 25 de maio de 2010

give you my love

Orelha Negra - M.I.R.I.A.M. from Hidde de Vries on Vimeo.

Orelha Negra (quem é que ainda não ouviu este super grupo?) - "M.I.R.I.A.M." Depois desta música e, sobretudo, deste videoclip, não há desculpa...

sexta-feira, 7 de maio de 2010



"These streets hold my deepest days
This hood taught me golden ways
Made me, truly this is what made me
Break me, not a thing's gonna break me

Ohh, I'm that history I'm that block
I'm that lifestyle I'm that spot
I'm that kid by the number spot
That's my past that made me hot
Here's my life long anthem
Can't forget about you
(Can't forget about, Can't forget about you)"


"Can't forget about you", Nas.

terça-feira, 4 de maio de 2010

ela diz mas tu pensas que quê, que fizeram esta guerra de sexos para ficar tudo na mesma?

ele diz não ficou, não. Hás-de ter razão, pois o que vejo é que além de eu já não ser o homem nesta relação, que além de tu já não seres a mulher, já não somos coisa nenhuma. Não te queria bater, não queria que cozinhasses para mim; repugnam-me essas merdas. Mas agora que este caos toma conta dos homens e das mulheres, ai isso toma, e não vejo o que de bom isso tem.

ela diz como? Que dizes?

ele diz sim. É que o amor também tem regras, hierarquias, códigos ancestrais de sedução e convivência. Vivermos sem esses códigos é o primeiro passo para o extinguir.

ela diz velho, retrógado, anacrónico.

ele diz sim, admito que o sou: como o amor.

sábado, 24 de abril de 2010

Gifted Unlimited Rhymes Universal



Morreu Guru, um dos meus músicos de sempre e sobre quem escrevi algumas (poucas) vezes por estas lides (aqui, ali, acolá e outra vez aqui). E também um dos maiores responsáveis pelo meu mergulho na música negra norte-americana, com tudo o que isso implica - não só o hip-hop, mas o jazz, a soul, o funk, etc., e que pode ser apreciado nas sua magnífica colecção Jazzmatazz (sobretudo os primeiros dois volumes). Também por esse abrir de portas, o meu profundo obrigado.
Até sempre.

"Actions have reactions, don't be quick to judge
You may not know the harships people don't speak of
It's best to step back, and observe with couth
For we all must meet our moment of truth

Sometimes you gotta dig deep, when problems come near
Don't fear things get severe for everybody everywhere
Why do bad things happen, to good people?
Seems that life is just a constant war between good and evil
The situation that I'm facin, is mad amazin
To think such problems can arise from minor confrontations
Now I'm contemplatin in my bedroom pacin
Dark clouds over my head, my heart's racin
Suicide? nah, I'm not a foolish guy
Don't even feel like drinking, or even gettin high
Cause all that's gonna do really, is accelerate
The anxieties that I wish I could alleviate
But wait, I've been through a whole lot of other shit, before
So I oughta be able, to withstand some more
But I'm sweatin though, my eyes are turnin red and yo
I'm ready to lose my mind but instead I use my mind
I put down the knife, and take the bullets out my nine
My only crime, was that I'm too damn kind
And now some skanless motherfuckers wanna take what's mine
But they can't take the respect, that I've earned in my lifetime
And you know they'll never stop the furious force of my rhymes
So like they say, every dog has it's day
And like they say, God works in a mysterious way
So I pray, remembering the days of my youth
As I prepare to meet my moment of truth"

"Moment of Truth", Gangstarr.

I'm ready to lose my mind but instead I use my mind

domingo, 18 de abril de 2010



Tony Manero (2008), realizado por Pablo Larraín.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Mãe,



"Dear momma let me start off with you
I know there ain't a thing you wouldn't do,
to try and pull me through.
And if there's anything good to be said about me,
Than it's true that I owe it all to you".

"Greateful", Pete Philly and Perquisite.

terça-feira, 30 de março de 2010

sei como é



[primeiríssima cena de 8 e 1/2 (1963), de Felinni]

segunda-feira, 29 de março de 2010

a dois



(Gato Preto, Gato Branco; 1998; Emir Kusturica)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Que fazes tu aqui a estas horas, rapaz?
É que não durmo, senhor.
Passas as noites em claro?
Pior, senhor.
Acordas e adormeces acordas e adormeces?
Antes fosse, senhor.
Então? São as costas que te doem?
Também, senhor, mas com as costas já posso eu bem… já me acostumei.
É a cabeça latejando?
Sim! Sim, senhor, sim o raio da meloa.
Passa-lhe um pano molhado com água fria, verás que a noite será mais fácil.
Mas não é isso, senhor…
Não é isso o quê? Ousas dizer-me que é mais, que eventualmente terás pecado?
Não, senhor… até costumam dizer que não faço mal a uma formiga.
A uma mosca, rapaz.
Ou isso, senhor. Acredite-me que nem moscas nem formigas.
Vejo que sim. Pois bem, rapaz.
mas caralho do velho que não vê que não percebe, que eu aqui à rasca, um palmo e meio de respiração em suspenso e o caralho do velho que não vê que não percebe, mas como se a sotaina ondula de cada vez que o ar entrecortado me sai dos pulmões, até tusso, mas então não me ia ajudar o cabrão do velho, está bem que é tarde e não venho a calhar mas quer dizer, a calhar também não me vêm as costas e bem que ando com elas, não sei quantos ossos não sei quanta carne a cair-me em cima
Senhor…
Diz-me, rapaz.
Não durmo, senhor… são
Sim? São?
São
Fala, rapaz!
São dias em claro, senhor.

sábado, 20 de março de 2010

superlativo

O escritor percebeu como a frase
“até aos vinte anos não se pode dizer que o homem conhece a infelicidade”
podia ser tão bela e universal como a frase
“durante toda a sua vida, desde o primeiro dia em que sacode os pezinhos e encolhe o luzidio pescoço, o homem conhece a tristeza mais profunda”.
Quando o percebeu, o escritor reteu a invencível maleabilidade de um poema, de um verso, de um aforismo. Abriu as mãos e contemplou a densidade brutal de um estado de espírito vertido em palavras, observou a volta que uma máxima literária universal - o mesmo é dizer, uma sentença humana (aparentemente) absoluta - pode sofrer quando as palavras e as sensações são outras, e a forma como aparecem, se articulam e formam um sentido, são diferentes das que até então em nós se impunham de um modo insuperável pela profundidade do seu alcance e beleza.
Nisto, o escritor apercebeu-se que havia chegado a uma conclusão gigantesca, talvez a maior de todas, e por isso sentiu medo em continuar a escrever. Por algum tempo ficou suspenso no tempo, mirando as folhas e a caneta ao de longe, como se de objectos mágicos flutuando no ar se tratassem; ou como camisas, calças, meias, presas por molas a um cordão fantasmagórico; ou ainda como fotografias penduradas no escuro, revelando mais uma cor, mais uma sombra, à medida que secam. Só lhes voltou a tocar quando aceitou, ainda que sem grande agrado, como que convencido por uma força opressiva, a tal maleabilidade de que se faz a carne dos mais poderosos pensamentos e frases. Algo derrotado, inconformadamente conformado, e interiorizando para si que uma vez lhe revelada aquela conclusão, havia feito enfim uma espécie de pacto de anuência – Sim, Eu declaro aceitar as complexas contingências das palavras -, decidiu que a única forma de se resolver consigo próprio e com elas, era nada mais nada menos que fazer isso mesmo: moldá-las, trocá-las, contradizê-las, virá-las ao contrário. Compreendeu finalmente que teria que viver com esse paradoxo, pois que a inversão das coisas, o sim e o não, o branco e o preto, o feliz e o infeliz, sempre foi o motor da palavra escrita e o motor da sobrevivência para quando um homem sente estar fatalmente, exclusivamente, num não, num preto, num infeliz. Ou para quando um homem se ilude perigosamente, docemente, com o pensamento de que tudo é vontade afirmativa, de que tudo é luz, de que tudo é feliz.

sábado, 27 de fevereiro de 2010


(L'Eclisse; 1962; Antonioni)

domingo, 21 de fevereiro de 2010

"ai amor, e este braço aqui, vou cortá-lo"



L'Eclisse (1962), Antonioni.

(o francês não é o original, mas sim o italiano. infelizmente, foi a única versão que encontrei.)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Este homem é quatro paredes. Está, também, metido em quatro lúgubres paredes, onde listas grossas e azuladas enfermam a decoração. O homem está deitado, fios sobre o corpo como uma teia de aranha eventualmente desmontável. O homem pensa
e se fosse dar uma volta

e o homem vai dar uma volta. Abre a porta e três corredores, cinzentos e azulados como as quatro paredes de há pouco, deparam-se-lhe à esquerda, à direita e ao centro. O homem pensa
e se fosse pelo do meio

e o homem vai pelo do meio. Ao fundo vislumbra uma janela na qual a noite da cidade é uma mera sucessão da luz do dia,
agora há luzes à noite, só isso mudou,

estranha o homem. Abaixo do parapeito, uma mesinha e uma planta vagamente cuidada: o misericordioso verde vagamente regado, o misericordioso verde como último reduto orgânico. O homem repara nos quartos que se abrem nas laterais,
quem é aquela velha ali gemendo, quem é aquele jarreta de óculos vendo televisão com o som tão alto.

O homem vira-se e à sua direita um novo quarto,
quem é aquele preto, é novo este preto aqui, nunca o vi por cá, estranho.

O homem volta para trás e no entroncamento atrás descrito, opta agora pela sua direita. Torna novamente à direita e abre-se-lhe a sala comum,
só eu e as janelas,

diz o homem, ou pensa o homem, só para confirmar que é só ele e as janelas. O homem está parado, suspenso, os braços pendentes as costas voltadas para o corredor, de frente para a janela. Não lhe vemos o rosto mas podemos concordar em como o imaginamos: um rosto de pijama e travesseiros, um rosto por dormir, um rosto farto de dormir farto de estar deitado ou sentado, um rosto desgarrado.
Então, já a levanta?
Han o quê, estarei louco quem falou ou sou eu que já oiço coisas
Então, se já conseguiu levantar entretanto?
O homem vira-se estremunhado, e o preto, atrás de si o preto.
Han, sim,
estremece o homem, sorri agora o homem por cordialidade,
quem é que já se levantou?,
não percebendo o quem e o quê a que ele próprio se refere enquanto pergunta.
Não, se tu já levantas a pila, senhor!
Ah, han o quê,
Ris-te, que nervoso estás tu, ris-te mais e mais,
ahh sim,
ris-te ainda,
ahh sim,
os olhos semicerrados acompanhando a comoção profunda.
O preto ri-se e diz ainda bem, eu vou amanhã.

O preto é o Simão, foi assim que o conheci, estou-te a contar isto porque isto me tocou, gosto de pensar nestas coisas percebes?
Sorrio, sim.
É que, pá, o preto desarmou-me, disse-me que me perguntou se eu já a levantava porque quando eu tinha olhado para o seu quarto ele achou que eu tinha uma cara boa. Uma cara boa disse o preto, e perguntou-me se eu já a levantava. Nunca aqui ninguém fala com ninguém a não ser quando eu, nunca aqui ninguém me tinha dito isto, dois homens estás a perceber, dois homens eu e ele, e ele homem de uma terra longínqua, quase do outro lado do mundo, homem do sol da sede pergunta-me se ela já levanta. Gosto de pensar nestas coisas sabes, tocam-me muito.
Sorrio, sim.
Pronto foi assim, hoje sinto-me mesmo bem disposto, o Simão vai amanhã, espero ainda poder despedir-me dele. E tu como foi o teu dia, eu quero é saber como foi o teu dia.
Sorrio, toco-me, aperto-me nas coxas e nas costelas com os dedos que estão dentro dos bolsos do casaco e começo a falar.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

namorados (dia dos)



"So if you like pyjamas and I like pyjahmas, I'll wear pyjamas and give up pyajahmas"

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

gozam-nos quando dizemos que este é o livro da minha vida, é o meu livro preferido. gozam-nos porque temos 15, 20, 30, 80 anos de vida e uns tantos outros de leitura em que o porvir sempre fará a sua tarefa: mudar, baralhar, apagar, contradizer. certo. então eu corrijo e digo que "Conversa na Catedral", de Mario Vargas Llosa, é o livro dos meus 21 anos de vida neste sítio.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Que fazes tu aí, moreno. Diz-me que fazes tu aí se sabes tão bem ou melhor do que eu que esta noite já mais nada reserva para ti. Conservas ainda o olhar tolo e faminto, é isso que me dizes quando me olhas dessa ponta do bar? Ahhh moreno, não sei, duvido. Tens fome moreno, mas não é esta noite que ta vai satisfazer, sabe-lo bem. Não moreno: esta noite só trará outros tempos à tua cabeça, outros lugares onde a fome apertava mas era outra, e essa moreno, essa fome da tua terra, essa é satisfeita quer pelo dia quer pela noite; mas apenas pelo dia e pela noite da tua terra pardacenta.
Aqui, nesta terra que pisas nesta noite neste bar onde meneias a cabeça sorrindo sem pudor às mulheres que passam, só vais encontrar isto: pessoas que da outra ponta do bar onde te sentas te escrevem.
Mas eu fiz fortuna, amigo. Pois fizeste, moreno, mas isso não chega. Nesta terra de afortunados, quem é moreno fode-se, moreno, e por isso os tostões que te encasacam brilharão sempre mais do que o bonito cachecol que trazes ao pescoço. A inveja rói-os moreno, nada podes contra isso. Tu e o teu amigo têm pela frente uma noite de ânsia, prontos para salivar de cada vez que eh pá!, oh menina, bonita que é você, não lhe poder oferecer uma bebida? Não podes moreno, mas tenho pena, lamento-o.
Mas se voltar à minha terra, amigo, lá serei rei: então volta moreno, está na altura de abandonares estas noites longas em que te sentas ao balcão de copo na mão, procurando no ar a carne para a tua fome. A fortuna aqui não te traz nada: é suja e corre pelos ralos das ruas que eles pisam.
Eu agora vou-me embora moreno, é tarde. Ficas por aqui? Dir-te-ia que não, que não ficasses, que amanhã apanhasses o primeiro caminho para a tua terra. Mas olha moreno, se tiveres sorte e oportunidade para matar a fome então dir-te-ia que sim: trá-la, podem dormir em minha casa, saio cedo de manhã, tens água fresca na caneca branca e cigarros, são dos mais baratos, contrabando penso, mas também já os fumaste durante muitos anos da tua vida por isso não te deves importar. Sim moreno, agora também eu ando a fumar disso, sim pois, toca a todos.

sábado, 30 de janeiro de 2010

God loves ugly



Não é dos discos mais felizes que se possam ouvir. Não são as letras mais descomprometidas e amenas que se possam digerir (por mais brilhante que seja a escrita). Mas a gente gosta... que podemos fazer?



"Individually wrapped, placed in neat little rows
Becoming A piece, of everything that grows
Some numbers, A name, to indicate you played the game
Came empty handed and left the same
A soul is A soul and A shell is A shell
The border in between is full of everything you felt
Some cling to A cross because they're tired and lost
They leave it up to the weather to measure the cost
And everytime I look within I recognize the darkness
Familiar to the image of the artist
Staring at the bathroom mirror in A strangers apartment
Can't remember her name, don't remember how I got here
But here I am, thinking about death again
Humbles out the stress, helps the breath get in
I need to check my friends as well as my next of kin
To let them know I love them all to the end
And when the soul begins to reap, I think she'll know me from the sleep
I keep caught in the corner of my bloodshot eyes
And if she has the nerve, to let me dump a couple last words
I'm gonna turn to the earth and scream "Love your life!"
Love your life, quite cliche but I guess thats me
A ball of pop culture with some arms and feet
As discrete as I've tried to keep the drama and cancer
It's no secret I hunger for someone to feed the answers
I never expected a bowl of cherries
I'm just a virgo trying to find my own version of the virgin mary
And when I let them carry me to a cemetary
I wanna be buried with a pocket full of clarity

[Chorus]
Now, how many times must you prove you're an angel
How many more demons do you have to strangle
How much longer must you remain in this dream
Before I finally figure out if you're insane or a genius

How many times must you prove you're an angel
How many more demons do you have to strangle
How much longer must you remain in this dream
Before I finally figure out if you're insane or a genius

Let no tears to fall from none of y'all
Just remember it all, the beauty as well as the flaws
L-O-V-E L-I-F-E
Here lies Sean, finally free
And as I look across the sea I smile at the sun
While it feeds the weeds the nutrition they need
The people still breathe, the city still bleeds
I'm going to love it to death and keep planting my seeds
I'm going to love it to death and keep an eye on the seeds
I'll be in love till im dead, I keep reaching the seeds
I'll give all I got left just to teach you to read
Love life to the death and keep planting my seeds
And when the soul begins to reap, I think she'll know me from the sleep
I keep caught in the corner of my bloodshot eyes
And if she has the nerve, to let me dump a couple last words
I'm gonna turn to the earth and scream (Love your life)"

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Peço desculpa aos autores dos comentários do post que aqui figurava - a propósito da banda The XX - mas o local original desse mesmo post era aqui. Por engano, deixei-o neste espaço.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

As relações entre pessoas que se estimam conseguem ser admiráveis. Admiráveis para nós, que as observamos e desenvolvemos. Sorriem, penso gosto dele, um percurso fortuitamente em comum ao fim do dia de volta para casa, não o imaginava assim tão gentil, um almoço que calha bem naquele dia aos dois porque eu saio ao meio dia e tu só entras às duas, não é?, recordações iguais em tempos e situações diferentes, han o teu pai chama-se António? engraçado o meu avô também, um dia que passou e o calendário que conta um ano por cada um: não gostas de peru como é isso possível? morria se tivesse que comer bacalhau. A surpresa de uma correspondência não expectável, a urgência de um afecto atendida e... já estou farto daquele café, eu também já foste aquele?, não tu também não? então vamos lá, não também não tenho nada para fazer. Mãe, estás a ver aqui na fotografia é aquele amigo de que te falei. Ah sim filho lembro-me: o primeiro uso inadvertido da palavra que nos faz piscar os olhos quando fazemos o parto da ideia e a deitamos cuidadosamente, felizes, numa frase.
Os que estimam, chegam então à conclusão, não como meta mas como assomo e entusiasmo, de que olha, gosto de gostar de ti! Gosto de gostar, admiram-se eles com a sinceridade do mais íntimo de si, admiram-se com gostar de gostar porque é um raciocínio que de imediato compreendem obedecer a uma lógica avassaladora: gostar de gostar porque, sim, caramba faz sentido!, o primeiro verbo como etapa mecanicamente anterior do seguinte, sim, como o supedâneo mais natural do mundo, um não vive sem o outro!, gostar não vive sem o gostar de atrás de si. Gosto mesmo de gostar de ti, gosto de gostar mesmo de ti?... E então, ahh! então é como se lhes fizesses cócegas debaixo dos braços!: amizade.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

oh mariquinhas não me vais chorar agora pois não?, olha como sou criança e não choro, mariquinhas. oh mariquinhas não sejas mariquinhas que a vida segue em frente, porque não sais um pouco?, em frente como o poema em linha recta dos outros dois, anda lá vai comer um pouco dos lampiões da noite, mas não faças da vida um poema, mariquinhas. vai que eu fico aqui de barriga virada para o infinito. quando lá chegar, ao infinito sim mariquinhas que nesta idade os meus suores ainda têm fé nessa quimera, mariquinhas quando eu lá chegar tu também vais estar lá, supreendido mas vais. E vamos dar as mãos, firmes, amando-nos como maricas, como irmãos.
E agora antes do banho morno, que fazes tu, vais escrevê-lo é?, és mesmo mariquinhas, por isso te amo tanto. mas não faças disto literatura, poemas fogo com eles!, com a literatura devemos ser mariquinhas, mariquinhas.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Que se passa com ele, sabeis?, ele sempre assim
Pois que também se passaria assim comigo, fosse esse o meu novelo.
Mas que se passa com ele, ele sempre assim, uma alminha, luz fraquinha, um clarão, um piscar
Pois que essa vossa última palavra é a resposta para a pergunta que fazeis.
Não vos entendo, é que ele sempre assim, apressado ou triste, é que, e vagaroso, parece que o seu coraçãozinho é o susto tornado matéria
Pois que pisca, lembro-vos...
Um susto que pisca?
Ou um coraçãozinho que pisca, como preferires.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Olha olha como te preocupas, como quando alguém te chama vais lá e estás com um olho lá e outro cá. Olha olha o balanço extraordinário que fazes para não deixares aqui nada por dar atenção ou afecto enquanto vais ali. Olha olha esse um pé cá um pé lá, sempre jogando com o equilíbrio dos astros para manteres a tua estrela acesa, luminosa. Olha olha como vestes a farda do ardina vendendo um jornal aqui nunca descurando o outro que pode ser vendido ali, a farda do bombeiro apagando um fogo aqui correndo para acolá. Olha olha moço, como transpiras do corpo e da alma para teres numa mão o sol a nascer e na outra o mais belo pôr do sol, os braços esticados e teus olhos estrábicos. Olha, olha o que eu te digo moço!, que vestes camisa tão trabalhadora, olha como mudas (olha que mudas!) a ordem natural do mundo nessa espécie de escondidinhas-caçadinhas. Olha... 1 2 3, como me chamo, como te chamas, devia dizer agora: stop!
1 2 3, 1 2 3, 1 2 3, 1 2 3, corre moço! Ou já não queres unir os dois pólos do mundo com as tuas mãos?

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Embriagado, de estômago farto, caminhaste comigo pela calçada, vais por onde?, ah se vais por aqui vou contigo, está bem, ou queres ir andando? não, vem comigo até mais lá à frente.
Com os olhos mortiços e um sorriso puro mas cansado, pardacento, disseste-me diverte-te e não te encafues han, tem um bom ano meu querido, meu extraordinário. Sim.
Rodei nos calcanhares, chorando-me por cada nervo trémulo do meu corpo, puxei a gola para cima, chorando-me por cada nervo trémulo do meu corpo e inspirei o ar de frente.
Choro, choro-me, sempre que recordo essa imagem que ainda nem tempo de vida teve para ser imagem ou memória, tu e o teu ombro que serviu de janela às minhas lágrimas, escondidas de ti, pingando nas tuas costas.