Ninguém vai dar por ela, mas o que Charlize Theron faz em Young Adult (não se deixem enganar pelo ominoso cartaz que o publicita), de Jason Reitman, é digno de uma grande actriz.
Todo o filme vive dela - de uma lost soul artificial até aos ossos, mas cuja dor e solidão são tão genuínas como as que existem em todos nós. E é à volta disto que anda todo o filme: verdade e mentira, hiperbolizadas na figura de uma mulher imersa num vazio - aparentemente cool, mas só aparentemente - que a engole. Um pouco como a personagem de Stephen Dorff, em Somewhere (2010), de Sofia Coppola. Aliás, é bem engraçado imaginar como seria um encontro entre estas duas personagens...
Se há um momento alto no filme, ele ocorre, justamente, quando a verdade destrona a mentira: quando Mavis, praticamente nua, despida das suas diferentes máscaras (seios, cabelo, unhas, maquilhagem, roupa, etc., etc.), chora compulsivamente num abraço improvável com Matt (outra lost soul, já agora). É nesse momento - em que Mavis é apenas Mavis, ela e o seu esbelto corpo em convulsão (e se é esbelto, para quê tantos artíficios?...) - que a personagem de C. Theron nos comove, num passe de mágica só ao alcance das maiores actrizes.
P.S.: É engraçado reparar como o fotograma acima se assemelha muitíssimo ao de Juliette Binoche em Copia Conforme (2010, Kiarostami), também ele um filme, não por acaso, que reflecte - ainda que noutros tons, e com a Arte como leitmotiv - sobre a verdade, a mentira e o mimetismo das relações humanas.
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