sexta-feira, 28 de outubro de 2011



Hiroshima Mon Amour (1959), Alain Resnais.

isto ainda é o melhor que temos



Le Quai des Brumes (1938), Marcel Carné.

Que se lixe o euro, a europa, a merkel e o orçamento de estado.
E sim, isto é um desabafo pouco sério - ou não assim tanto, uma vez que é isto que, na altura (período entre guerras) como hoje, ainda nos vai safando da hecatombe. Adiante.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Pater



Em tempos de crise política e financeira, de descredibilização e demonização da classe política, de tachismo e demagogia, de agências de rating e indignados - em tempos como os nossos, devia ser obrigatório ver o filme Pater, de Alain Cavalier. Obrigatório.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Sou o mesmo que sobe esta avenida, a pé, relativamente destemido, inebriado por sonhos e dúvidas, olhando para tudo com curiosidade, nunca tendo muito a certeza de mim próprio e do que penso sobre as coisas, do que pensam de mim, do que o mundo pensa sobre o que os outros pensam de mim. Sou o mesmo que sobe esta avenida, sem grandes e reais motivos de preocupação mas permanentemente inquieto por natureza. Tenho tido alguma sorte na vida, apercebo-me enquanto olho para um grande painel publicitário e carrego no botão verde que há-de acelerar o sinal para peões.

Sou o mesmo que sobe esta avenida, mas um pouco mais velho, com farda renovada e uns precoces cabelos brancos a despontar. O mesmo, mas agora sozinho, sem os urros da camaradagem adolescente recém-saída de um dia de aulas que acaba, proverbialmente, "às seis e meia". Tudo está no sítio: as casas, os cafés, os semáforos, as árvores, os canteiros, as passadeiras, as estações de autocarros. Sei lá o que mudou em mim. Foi tanta coisa que, não sendo tão importante assim (vejo agora), não impede que ainda me sinta o mesmo rapaz de ontem. Sei lá o que mudou em mim. Talvez só tenha sido a distância que percorro, porque agora o caminho encurtou e já não vou até à escola, fico um pouco antes. Talvez tenha sido só isso, eu sei lá.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

e a vida é simples



"Nobody but me", Lou Rawls.

"I've got no chauffeur to chauffeur me
I've got no servant to serve my tea
But I'm as happy as a man can be
Because I've got a girl who loves nobody but me


I don't own stock in no stock exchange
I don't hold claim to no real estate
But I'm not living my life in vain
Because I've got a girl who loves nobody but me


And everytime my sweetie goes walking
Down some sunny street
She always sets the whole town to talking
'Cause she's a genuine Athenes
from her head down to her feet

I don't rank high in society
I don't possess a PhD
But I'm all set confident-u-ally
Because I've got a girl who loves nobody but me, now
"

domingo, 23 de outubro de 2011

sangue do meu sangue



Ainda bem que vivo no Porto e que não fui ver "Sangue do meu Sangue" no sábado passado ao Cinema São Jorge, em Lisboa, mas sim ao Dolce Vita do "dragoum"(o shopping com os acessos rodoviários mais kafkianos da cidade do Porto). É que, permitam-me discordar dessa enorme maioria, também eu daria duas estrelas ao filme, se fosse crítico (se tivesse mesmo que dar estrelas, o que é uma tarefa particularmente penosa e, muitas vezes, inútil, porque inevitavelmente redutora). E não digo duas para coincidir, por conveniência, com um dos protagonistas dessa triste cena (o crítico Francisco Ferreira, do "Expresso"). São, com justeza, duas: não seriam três porque tal classificação, para mim, leva já um "gostei muito deste filme"; não seria uma porque isso acarreta um "porquê que saí de casa?".
Antes de tudo e mais alguma coisa: nunca vi outro filme de João Canijo (ignorantia non excusat, bem sei, mas o adágio não me parece relevante para o que vou dizer nas linhas seguintes) e, portanto, não estou a par da sua carreira (a única coisa sua que me chegou foi um comentário, bem interessante por sinal, a um filme do Cassavetes, que vem naqueles "extras" dos dvds).
Agora vamos ao que interessa.


João Canijo filma muitíssimo bem, disso não há dúvida, e só esse facto já é razão para dar graças, tão pouco são os realizadores portugueses assim dotados (mesmo falando, por exemplo, de um João César Monteiro, de quem gosto muitíssimo, não se reconhece nele uma técnica e uma estética deste calibre). Não só naqueles planos "divididos", em que temos duas cenas a decorrer em simultâneo (o que é um estímulo quase "naturalista" à atenção do espectador, porque tantas vezes as coisas se passam assim no nosso quotidiano), mas também na forma pausada, reflexiva, com que deixa as imagens fluírem no plano. Toda a cena inicial, feita de travellings e panorâmicas demoradas (a da última cena lá no alto, antes de passar ao bairro, é fabulosa) e, de um certo modo, "documentaristas", é de uma mestria indubitável. Portanto, quanto a este capítulo, estamos conversados.



Depois vem a questão da representação. Apregoou-se por aí aos sete ventos que estaríamos perante uma interpretação fantabulástica, onde o trabalho de actores de Canijo - à Mike Leigh, segundo dizem: um processo complexo e semi-livre de construção de personagens, que resulta de um diálogo dialéctico realizador-actores, os quais dispõem de um espaço de auto-construção muito amplo, e onde predomina uma grande carga de improvisação - seria por demais evidente. Pois bem, não posso estar mais em desacordo. Rita Blanco é sim ou sopas: ou se gosta muito ou se detesta. Eu nunca gostei particularmente e, muito honestamente, ainda continuo a preferir vê-la na série "Conta-me como foi". De quem gostei, e que para mim foi uma revelação, foi de Anabela Moreira, essa sim, convicente e terrivelmente decadente no respectivo papel. Quanto ao resto, a coisa oscila entre o mediano (Cleia Almeida, Rafael Morais, Nuno Lopes) e o fraco (Francisco Tavares). Fora desta campeonato, está Marcello Urgeghe (o amante-senhordoutor-vilãozinho), a jogar claramente nos distritais. A sua interpretação é de tal forma má que nunca percebemos por que razão tudo o que lhe sai da boca parece declamado (vamos acreditar que isto não fez parte do tal espaço de "auto-construção"...) e, pior, vazio de sentido, o que é particularmente grave quando se repete interminavelmente coisas como "amo-te, "amo-te tanto", "preciso de ti". Além do tom ridiculamente poético com que as diz (parecem banalidades de alguém melancólico que está a pedir um café ao balcão, e que acabou de ler Álvaro de Campos), não tem qualquer presença de espírito num filme em que a sua personagem é (ou devia ser) absolutamente central, e com isto já se vê um dos aspectos por onde o filme falha redondamente (diga-se, já agora, que as cenas de amor do casal não entusiasmam nem um bocadinho). Um autêntico fantasma durante todo o filme, uma não-personagem, um falhanço dos pés à cabeça. Se os diálogos - formalmente falando, porque, na substância, assemelham-se mais a solilóquios - com a sua amante já são o que são, é ainda mais confrangedor assistir às suas conversas com a esposa (uma Beatriz Batarda perfeitamente lateral, sem chama, um adereço simbólico para dizer que existe uma mulher, traída, que sofre).



Agora, a portugalidade.
É notório (não o podia ser mais) o interesse de João Canijo em documentar essa portugalidade século XXI - feia, porca e má - do nosso país e seu património cultural (é o "cultural" que temos). Nada contra isto, muito pelo contrário. A questão está na forma como isso pode ser feito. E Canijo fá-lo no formato mais "telenovesco" possível, o mesmo é dizer, do modo mais fácil, gratuito e imediatista. Será que é preciso bombardear o espectador durante quase três horas com posters do Tony Carreira a piscar o olho ao plano, música pimba, relatos de futebol (Cristiano e companhia) em voz "off" ou personagens com camisolas da selecção nacional vestidas? Não é, e fazê-lo só demonstra uma certa dificuldade em retratar um determinado tema com algo mais para além do superficial e do folhetinesco. Basta pensarmos em Teresa Villaverde ("Mutantes", uma obra que também incide sobre a juventude, a marginalidade e a falta de rumos) ou, para o chamar uma vez mais, João César Monteiro, para encontrar essa mesma portugalidade filmada, mas, desta feita, sem recorrer a estereótipos cristalizados. É que não o fazendo, e isto é fulcral para o entendimento do que aqui vai dito, o que ressalta é uma incomparavelmente maior genuinidade do objecto que se retrata, das suas idiossincrasias, seus tiques e vícios. Esse filme de Teresa Villaverde, ou a famosa triologia de João de Deus, de César Monteiro, captam, na perfeição, o nosso país e o que é "ser português" - ou alguém tem dúvidas? Está tudo lá, mas agora introduzido de forma sóbria, subtil, dando ao espectador menos a "ver" (como faz flagrantemente Canijo, que nos espeta pelos olhos adentro todas as marcas imagéticas da portugalidade) e mais a procurar, a reflectir, a (re)descobrir. O que também acaba por constituir, está bom de ver, um maior campo de liberdade (e de interesse, et por cause) para um espectador que não queira identificar tudo na primeira jogada (claro que só faz sentido falar nisto se estivermos a falar de um realizador-autor como João Canijo; para realizadores que fazem filmes por encomenda, esta questão nem se põe). Mas vou ainda mais longe e arrisco fazer a seguinte pergunta: de tão exacerbado que é o retrato do nosso portuguesismo (o tal bombardeamento de "etiquetas"), não sairá a própria realidade falseada? Eu penso que sim. Tenho quase a certeza que sim. Por circunstâncias várias que não interessam para aqui contar, tive e tenho contacto com muitas pessoas que podiam ser as deste filme, a viver ali, num bairro como aquele. E as coisas não são "tão" assim - a realidade portuguesa, a dos bairros sociais e das vidas que aí se cruzam, não é como João Canijo a descreve, ou, pelo menos, não é tão suja, tão porca e tão má. Isto poderá ser refutado - sim, existirão muitos lugares do país onde a vida é assim ou pior ainda. Mas, bem entendido, e é nesto contexto que digo isto, do que se está aqui a falar é de Cinema, na vertente de ficção. Não é uma reportagem televisiva nem um documentário propriamente dito. E o cinema-ficção, por mais realista que pretenda ser, deve saber tratar o seu objecto com distância e sobriedade, não caíndo na "etiquetização" fácil e agressiva de uma realidade social que é bem mais densa e complexa do que isso (logo à partida, tome-se a título de exemplo, é muito duvidoso que alguém naquela casa, pela sua idade e inserção socio-urbana, goste de Tony Carreira - e goste o suficiente para colocar um poster seu na parede de casa).

Como me disse a companhia com que fui ao cinema, o filme seria muito melhor se fosse mudo. É verdade. Mas concordar com isto não constitui, como pode parecer à primeira vista, qualquer sintoma patológico de aversão à fonética portuguesa cinematográfica - nada disso. O português que é falado nos filmes de tantos outros realizadores portugueses (Teresa Villaverde, César Monteiro, Pedro Costa ou Manoel de Oliveira) é, tanto quanto se saiba, exactamente o mesmo, e o problema não se coloca. O mudo funcionaria melhor tão-só pelas razões que atrás referi: Canijo filma bem, mesmo muito bem, daí que a força visual do filme (cenas de interiores e exteriores, actores, paisagem) resulte maculada pelo fraco desempenho na interpretação, a qual vive também, como é óbvio, da forma com os actores dizem o texto. E no dizer vai grande parte dos traços (psicológicos e físicos, até) da personagem que se interpreta...



Por fim, o argumento.
Atento o interesse primordial que subjaz ao filme de Canijo - o de documentar a tal portugalidade -, ele (argumento) não é, para o bem e para o mal, central na análise que se faça ao filme. Isto é: se o filme fosse uma obra-prima, o argumento, provavelmente, não era ponto de controvérsia; a não ser uma obra prima, o argumento também não releva por aí além, porque o que ressalta é a tal incapacidade do realizador em captar a realidade sociológica e cultural que pretende. Todavia, sempre se pode dizer, ainda assim, que, despido o filme do resto, o que sobra é uma argumento telenovesco, de trazer na algibeira, e cujo núcleo central (a relação adúltera) se conta em três ou quatro linhas, sem densidade nem nervo. Sim, está bem, há uma certa "surpresa", mas ela tem mais de estapafúrdia do que de excitante (gostava de dizer um pouco mais sobre isto, mas correria o risco de contar tudo, o que não interessa a quem ainda não viu o filme).



Por isto (e por tudo o mais que nos assalta quando estamos numa sala de cinema, mas que se nos escapa da memória teimosamente), é que fiquei tremendamente desiludido depois de ver "Sangue do meu Sangue". Até porque, nesse dia, levei comigo alguém a quem queria fazer crer as virtudes do (bom) cinema português. 1-0, estou a perder.

sábado, 22 de outubro de 2011

Nunca uma linha de baixo foi tão prodigiosa como nesta sinfonia (ou devo dizer "beat"?):



(obrigatório ouvir com colunas decentes)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011



Les Dames du Bois de Boulogne (1945), Robert Bresson.

O melhor deste filme de Bresson é, vejo agora, o facto de ele próprio, no final, contrariar, radicalmente, o que é dito nesta cena, uma das primeiras do filme. Porque será no final que a possibilidade do amor verdadeiro, incondicional, virá ao de cima e se consolidará, provando, então, que sim, que there is a thing such as love.
É como se o filme se falseasse a si mesmo, como se fosse uma contradição nos termos, com o objectivo de primeiramente (se) enganar para, depois, revelar o certo, o bem.

Dizer que existem um princípio e um fim antinómicos neste filme é o mesmo que dizer, no fundo, que existe mentira e verdade. Falsidade e realidade. E o Amor (assim mesmo, com "a" maiúsculo) está no segundo prato da balança.
Tal como todos vocês, também não gosto do Paulo Portas (em Tribunal, esta circunstância seria qualificada como um "facto público e notório"). Mas foi o único líder político que, perante a morte desse tiranete chamado Kadhafi, e antes de manifestar a sua alegria pelo fim de um regime doentio, ressalvou o facto de não se congratular com a morte de homem algum.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

querido diário

Sempre me assalta um sentimento de assombro quando entro naquele bar e, do balcão, vislumbro, do lado de lá, um pouco abaixo das pastilhas elásticas bubblicious, das gomas e dos kinder bueno, um livro. "A Ética e o Direito". Pago, como e ponho-me ao caminho com este belo pensamento do dia no bolso. Se todos lhe prestássemos atenção na hora de pedir o croissant com queijo prensado, o mundo era um lugar melhor.


La Jetée (1962), Chris Marker.

terça-feira, 18 de outubro de 2011



Les Dames du Bois de Boulogne (1945), Robert Bresson.



"On the other hand, just notice how stark this film can be when it comes to its climax, the moment at which Hélène reveals her subterfuge and her malice and Paul is overwhelmed by it. The entire scene is kept fiercely confined. Paul’s car cannot quite escape from the grisly marriage—for Hélène cuts off his escape. There is then a superb, distilled set-up, seen from one side of Paul’s car, looking out through the far window at the balefully triumphant Hélène. Again, Paul tries to escape, he maneuvers his car but he keeps coming back to the same bleak confrontation. This happens several times, with a dreadful sense of claustrophobia, of nightmare even. An Ophuls, a Michael Curtiz, would have flung the camera, the cars, the stars, and the music around—think of Lana Turner cracking up in her car in The Bad and the Beautiful. But already, in 1944, the sensualist in Bresson has seen the power in distillation, enclosure, and a simplification that might become habit. The sound of the car’s engine, the frantic moves, and the implacable composition are all working towards a greater concentration still. In other words, the idea of being morally trapped or confined—of imprisonment—is coming to the surface". David Thomson

cinema na FDUP


Design: Luísa Beato




O Cineclube da Faculdade de Direito da UP retoma hoje a sua programação - é às 18h15, com "Amarcord" (1973), de Fellini.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

paradigmas

Antes, quando se cortavam direitos sociais, eram entrevistados juristas e professores de Direito, questionados sobre a legitimidade dos cortes e da sua compatibilidade com a Constituição e o princípio da irreversibilidade dos direitos fundamentais (esse Paraíso na Terra).
Hoje, quanto se dizimam esses mesmos direitos (e não estou com isto a fazer qualquer juízo de valor, antes a constatar um facto), os entrevistados são outros - invariavelmente, economistas, a quem se pergunta se os cortes serão "eficazes", "eficientes" ou "realmente rentáveis".

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

last exit



Drunken Angel (1948), Akira Kurosawa.
Este novo teledisco da Beyoncé está uma senhora obra de arte, mas continuo a preferir este...:

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

o melhor cego é o que vê e bem

Primeiro, era a doença das vacas loucas. Depois, a gripe das aves. Tudo pragas a que eram associados uns números e umas letras esquisitas que nunca ninguém perdeu tempo a memorizar. Os jornais e as televisões também foram contaminados e não nos ofereciam outra coisa para ler ou ver que não isso.
Actualmente, um novo surto parasitário se tem estabelecido pelo país. Ultrapassados os problemas neurológicos e respiratórios, respectivamente, que as pragas atrás referidas comportavam, o vírus mais recente tem como sintoma uma falsa sensação de perda de visão, que se consubstancia, cientificamente, naquilo que alguns oftalmologistas de balcão (como alguns dentistas há uns anos atrás, quando fizeram dos aparelhos os seus poços de petróleo) dizem tratar-se de "miopia" ou "estigmatismo".

Vai daí, assiste-se a um movimento patológico deveras surpreendente: indivíduos que até à data (que se saiba, pelo menos - isto das enfermidades de cada um tem muito que se lhe diga) nunca haviam sofrido de maleitas oftalmológicas, passaram, todos eles, a ver mal. Tão dramático foi o diagnóstico que se achou por bem que se medicasse um antibiótico muito próprio: uns óculos, de massa, pretos, de lentes quadradas, de preferência com uma inscrição dizendo "Ray Ban" (isto no que toca às vistas mais vale abrir os cordões à bolsa, e a crise com as couves). Mais: foi incluída na receita a perscrição de que a utilização deste peculiar antibiótico se deveria reforçar nas horas de menor luminosidade, sobretudo nos espaços nocturnos de grande movimento, onde a aglomeração de um elevado número pessoas pode constituir uma ameaça à diversidade e singularização dos transeuntes.

O prognóstico dos especialistas mais optimistas do meio vai no sentido de que, mau grado o estado das coisas, é possível prever que a situação se possa inverter a qualquer momento. Entre eles, alguns - que preferem manter o anonimato - chegam mesmo a afirmar que "a moda é assim". Embora com reservas, admitem que, num futuro próximo, se possa assistir a um fenómeno de des-utilização deste antibiótico e que todos voltem novamente, por assim dizer, a ver bem.

terça-feira, 11 de outubro de 2011





"The Walk", do novíssimo álbum How Do You Do?, de Mayer Hawthorne.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

rumble fish revisited v. suburban 3.0

Se fosse realizador, que não sou nem um bocadinho, gostaria de um dia dizer, em grandes parangonas, numa revista do meio especializada (podia ser na Sight and Sound; nos Cahiers não dá porque, putain, o francês ficou num meiinho da bola qualquer no 9º ano), qualquer coisa como: "nunca um género músical como o hip hop instrumental potenciou banda sonoras tão magníficas para o Cinema". (deixemos de lado, de momento, a indefinição do termo "hip hop instrumental", mas, para o caso, oiça-se este senhor)

Primeiro, o entrevistador engasgava-se e ia-se embora, indignado com a minha falta de bom gosto. Depois, eu era aclamado. Depois, criticado. A seguir a isto tudo, fazia um filme muito negro (com negros, e brancos, também, mas nada de blaxploitation) com a música abaixo (da qual não consegui arranjar o instrumental, mas apenas a versão original) e ganhava a Palma de Ouro. A cena de abertura seria mais ou menos assim.
Sem créditos, haveria um travelling horizontal inicial (plano geral), demorado, sobre uma ponte defronte para o espectador. Uma ponte suja, de tons negros, azuis e roxos, com as paredes molestadas por graffitis desinspirados. Corte, novo plano. Novo travelling, mais lento ainda, agora junto ao rio (plano médio), onde se vê, unindo as duas margens, uma frágil estrutura composta por bóias. (daqui em diante, plano-sequência, realista, estilo irmãos Dardenne). Sobre ela, dois rapazinhos, uma menina e um menino, de casacos insuflados e carapuço, voltados da escola, tentando chegar ao lado de lá, onde os esperam o irmão e meia dúzia de amigos deste (movimento de câmara na sua direcção, à medida que os meninos avançam sobre as bóias; campo/contracampo, com a câmara ligeiramente tremida, entre os rostos contrastantes dos meninos e os dos mais velhos), de sorriso afiado e aspecto pouco recomendável, falando alto e brincando com uma velha navalha (close up picado sobre as suas mãos, suas calças e sapatilhas, e sobre o chão, onde espreita uma relva desfalcada e morta).
A cores. Chuviscos e céu escuro. O piano a carregar o ar.




"Cen Cal terrain, soak up game
Where graff writers bomb trains
And poets is smoked out with dope in they veins
Need a toast to the post where we hang
Dialect unmatched
Gotta adapt to the slang that's spoke
A West Coast thing
Out of town niggas get took out the frame
Just for thinkin' every hood's the same
Especially where I'm from
We live by the gun
Put money over bitches, and die over funds
You could lie in the trunk
Or at the blink of an eye get jumped
Can't say we seen it all
But we can say we saw enough
Survive when the times got rough
And the money got low, houses got raided
We was at the park gettin' faded
Not a care in the world"

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

nem tudo ficou lá atrás



"Still Sound" (álbum Underneath the Pine, 2011), Toro y Moi.

O bom gosto, por exemplo.

directly



Les Anges du Péché (1943), Robert Bresson.
Escrevi, há dias, um pequeno comentário sobre M (às vezes dá-me para ousadias destas), filme de Fritz Lang, de 1931. Se alguém tiver curiosidade, pode lê-lo aqui.

contemporaneidade, what else?

Dois trolhas, calças sarapintadas por manchas de tinta e mangas de camisa esfarrapadas, aproveitando a sua pausa de almoço defronte de uma loja "Nespresso", apreciam máquinas de café (suponho que o seu "design" ou a sua "identidade visual").

espelho meu, espelho meu,

Será que sou o único que acha tremendamente exagerado este culto em volta da partida do Steve Jobs? (Eu posso explicar porquê, se for mesmo o único...)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

I love you



"U-Love", J Dilla.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

0:34 - 1:07



Paranoid Park (2007), Gus Van Sant.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

I'm back, I forgot my drums



"Back to front (circular logic)", faixa inicial do novíssimo álbum de DJ Shadow - The Less You Know, The Better (2011).


"The Less You Know, The Better" é um grito de revolta de Shadow (ele mesmo o disse em várias entrevistas) contra a informação massiva, em série (estilo "wikipédia-chapa-5"), que todos os dias nos entra pelo computador (já não pela tv - oh times they are a-changin'! -, aí é já só mesmo casas dos segredos e pesos pesados), alimentando gerações e gerações que, perante tamanha monstruosidade informacional, se retraiem (porque tudo está à distância de um imperial click e a procura das coisas por gozo pessoal deixa de fazer sentido) e a consomem, muitas das vezes, passiva e acriticamente.
Portanto: Shadow, em muitos aspectos, estou contigo! (mas sim, claro, isto também tem o seu lado bom, os seus aspectos positivos, bla bla bla - tudo isso é verdade, mas...)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

o mundo visto daqui de dentro



Apocalypse Now (Redux), 1979, F. F. Coppola.
"Não é só a vontade de impressionar os outros à custa de um estilo rebuscado. Quando escrevem, quase todos os adolescentes abusam das metáforas, porque ainda desconhecem a tremenda ambiguidade que persiste em tantas coisas concretas".


Quem me dera ter escrito isto.

domingo, 2 de outubro de 2011



Les Choses de la Vie (1970), Claude Sautet.