sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

yes you will/yes I will





"You'll loose a good thing", álbum Trapped By a Thing Called Love (1971). Denise Lasalle.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Pinochet

Lembro-me da primeira vez que vi a minha Mãe chorar - que soube que a minha Mãe também chorava. Era pequeno, mas não tanto assim, pois já me sentava à frente no carro. Era de manhã, a minha Mãe levava-me ao colégio e estava um bonito dia de sol.  Passávamos o Campo Alegre. A rádio, a Antena 2 (lembro-me porque, no caminho para a escola, era habitual a minha Mãe pôr-me a ouvir uma senhora que contava pequenos contos a essa hora), noticiava, não consigo recordar-me com exactidão, que centenas de famílias chilenas tinham finalmente visto confirmados, passados anos e anos, os nomes dos mortos seus parentes dados como desaparecidos durante o regime de Pinochet. Foi uma grande surpresa para mim e, a princípio, pensei que um "cisco" acometia, como era habitual, os olhos da minha Mãe. Em silêncio e numa fracção de segundos, sem que saiba ainda hoje explicar muito bem, percebi imediatamente que não, que era outra coisa. A minha Mãe assoou-se discretamente, baixou o volume da rádio e explicou-me isto que acabei de escrever. 

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Walsh #22 Crítica "Safe" (Noutras Salas)

 
 

A minha crítica deste mês lida com o mundo nada "safe" (mas não pelas razões que perturbam a Julianne Moore) de Safe (1995), fabuloso e premonitório filme do norte-americano Todd Haynes, e permitiu-me falar de uma série de coisas que me preocupam. O filme passa dia 28 de Janeiro no Cineclube de Joane, em Famalicão. Para ler no À pala de Walsh (clicar).
 
 
Começámos por Pasolini e pelo mundo que este, à época, dissecava para chegar a Todd Haynes e ao mundo sobre o qual Safe (1995) reflecte (e parodia?). Se, como já se escreveu e muito bem, Safe é um filme de terror, é porque, em bom rigor, o mundo (o “ambiente”, já que é também isso que está em causa) nele retratado é, ele próprio, de certo modo, um lugar de alguns “terrores”, outra forma de falar dos comportamentos e paranóias instituídas que o habitam – e é aqui que o cruzamento com Pasolini ganha luz. (...) Safe é um update da tese de Pasolini, no sentido em que o “novo fascismo” – descontando, insista-se, a inadequação do termo – personificado pelo consumismo tem o seu correspetivo, na pós-modernidade em que se ambiente o filme de Haynes, nas mais diversas, chamemos-lhe assim, “ditaduras da existência” (exacerbação da arte da existência, do “cuidado de si”, de que falava Foucault) (...)".
 
(Excerto)

domingo, 25 de janeiro de 2015

on & on




"On & On", álbum B4.Da.$$ (2015). Joey Badass.

"Time don't stand still, so you gotta move on"

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

CAMIRA... à pala de Walsh



A CAMIRA (Cinema and Moving Image Research Assembly), de que sou membro, é um projecto internacional que reúne crítico e académicos do Cinema e que começa, agora, a dar os primeiros passos. A primeira iniciativa da CAMIRA em Portugal ocorrerá por ocasião da Conversa à Pala que o À pala de Walsh  organiza no dia 29 de Janeiro, em Lisboa. Link para a CAMIRA (clicar) e para a Conversa (clicar).

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

I was born with a limp on stage when the beat dropped



"The Backflip", álbum ...The Journey Aflame (2011). Akua Naru.

Hip-hop "do século XXI"? Está aqui, nunca daqui saiu. Não precisamos de mais nada. HUH!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

mmmmmmmm




"Love without sex", álbum Something So Right (1976). Gwen McCrae.

(1:59 em diante)

domingo, 18 de janeiro de 2015

sétimo dia



O Cavalo de Turim (2011), Béla Tarr.

São seis dias; o sétimo não existe, não vem, não chega. Porque, no fim, não há descanso mas apenas o nada? Porque o fim, a escuridão, é, afinal, o descanso? Qualquer que seja o caminho que tomemos, sabemos que Deus, o tal que participa activamente, se ausentará, pois tudo já foi dito e re-dito, feito e refeito. Destruído, construído e re-destruído. Repetido. Deus parte, a câmara(-Deus) também. 

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Querido Pai:


(Nebraska, Alexander Payne)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

radicais

O que mais me assusta nos radicais não são (apenas) os seus programas; é a circunstância de levarem a que aqueles que se lhes opõem se... radicalizem.

sábado, 3 de janeiro de 2015

começar o ano



Uma das melhores formas de começar o ano cinematográfico: com este notável ensaio de Peter Brunette sobre o Europa '51. Nem dá para acreditar que este e outros ensaios estão totalmente acessíveis. Mas estão - ali ao lado.


"Again, the characteristic Rossellinian refusal to be judgmental is in evidence. So, for example, while we realize that Irene and her husband have been remiss in not paying more attention to their son, it is difficult to estimate just how much blame we can attach to them. It is always possible that the child is hypersensitive and would have attempted suicide in any case: we simply don't know. Similarly, at the end, though most evidence leads us to suppose that Irene is not really insane, at the same time her behavior is truly "abnormal," that is, not like other people's behavior. What other definition of mental illness do we finally have? Some of the dialogue also perversely goes counter to the rest of the information we are receiving. Thus, when Irene is asked by the priest at the end if she has performed all of her eccentric good deeds out of love, she says no, it was out of hatred for herself and what she was. The line carries just enough manic charge to suggest that perhaps she is mentally unbalanced after all.
(...)
Just as we have seen in the films following Open City, Rossellini is operating a complex, dynamic relationship between what might be called the realistic and the expressionist in Europa '51 . In the earlier films, this dynamic took the form of an implied critique, by means of various self-reflexive gestures, of realist aesthetics. Here, what is being questioned is film's ability to penetrate into the "heart" of a character it chooses to study. Still committed to the "documentary of the individual," which came to the fore with Germany, Year Zero, Rossellini seems increasingly dubious about the efficacy of film to penetrate much beyond the surface of raw human phenomena. On one level, then, the film seems to say that it can finally be little more than a "documentary of the face" after all. Irene's character has been interpreted by critics in so many different ways that the final unknowability of the other can even be seen as one of the film's principal themes. Near the end, when she is being "scientifically" tested for mental illness, the flickering tachistoscope that is foisted on her, so closely resembling a film projector, suggests a homology between science and the cinema in the futility of their mutual attempts to penetrate to a sure knowledge of any human being".

Peter Brunette, Roberto Rossellini, Berkeley: University of California Press, 1996, pp. 139-140.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

stop singin'



Nunca tinha reparado com atenção, mas o final da lendária cena protagonizada por Gene Kelly em Singin' in the Rain (passou hoje na RTP 2) é o pior possível, constrastando com a genialidade e a beleza artísticas do que até aí víramos e, mais importante, num outro plano, com a própria inocência, a pureza, a espontaneidade do sentimento electrizante (o combustível para toda aquela energia) que percorre o seu corpo nesse momento, isto é, o seu Amor por Kathy. Depois de dançar, cantar e um sem número de malabarismos, depois de toda uma sequência profundamente graciosa em que a felicidade e a leveza imperam, quase dando a sensação de que Gene Kelly, de tão maravilhado, pode "voar" a qualquer momento (ou talvez nem seja preciso, pois ele já está autenticamente "nas nuvens"), a cena (e a música) é interrompida - momento em que Gene Kelly carrega uma expressão assustada, como de alguém que "foi apanhado" - com o surgimento de um Polícia, figura de autoridade por excelência, que deliberadamente atravessa a rua para ir ter com ele e, apenas com o olhar, qual instância da moral e dos bons costumes, o reprovar e censurar por aquele acto. Mais: o polícia cruza os braços (sinal de paciência, de condescendência com o que acabou de presenciar) e fica por alguns segundos a olhá-lo, como que aguardando que este se "recomponha", que volte "a si", ou seja, que deixe as nuvens e volte à terra, o mesmo é dizer, à normalidade. Autêntica ordem de reposição da normalidade que Gene Kelly diligentemente acata e executa, "disfarçando" a sua felicidade, como se de um acto "de loucura" (andar à chuva como se nada fosse), desviante, se tratasse - Amor sim, mas tanto não...

Dirão alguns: Gene Kelly apenas se sentiu embaraçado, não há qualquer juízo de censura. Mas, a ser assim, por que razão aquele que o "descobre" é um Polícia? Para sentir embaraço pela situação (pela "figura" que estava a fazer), qualquer pessoa que ali passasse inesperadamente serviria. Aliás!: até este momento, Gene Kelly foi fazendo as suas acrobacias enquanto várias pessoas passavam por si (algumas delas parando momentaneamente para o observar, naturalmente supreendidas), sem que isso o incomodasse ou fosse motivo de embaraço...!

Não é por isto, obviamente, que esta cena deixa de ser o verdadeiro achievement artístico que é, mas não deixa de ser intrigante como, com tantas formas para terminar aquela cena, se tenha decidido por uma tão deslocada e descontextualizada.