Apaixonou-se por ele porque, quando o ouvia falar, com ela ou com outras pessoas (e como gostava de o ouvir falar com outras pessoas), sentia que não compreendia totalmente o que dizia, que não alcançava o sentido último e particular das suas ideias. Sofria com ele quando o via desesperar por não conseguir explicar o que pensava a alguém, e, nesses instantes, imaginava como lhe saberia bem pousar a sua mão sobre a dele.
Passado pouco tempo, concluiu que a atracção pelos homens se lhe tinha revelado sob a forma da impossibilidade da comunicação plena. O seu amor por ele era, portanto, o fascínio pelo mistério da linguagem, pela dificuldade e esforço em fazer dela a correia de transmissão das ideias. Claro que também o considerava um homem bonito, mas isso só relevava, ou relevava sobretudo, na exacta medida em que acentuava essa incapacidade, terna e rebelde, em se fazer compreender: por exemplo, quando baixava a cabeça e passava os dedos pelo cabelo, fazendo-os descer pela nuca e pelo pescoço até chegar à barba que lhe cobria o queixo.
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