segunda-feira, 27 de maio de 2019

shea butter baby




no ípsilon da passada sexta-feira, a propósito de Shea Butter Baby, belo LP de estreia de Ari Lennox, deixo a sugestão (desejo) para que os senhores promotores a tragam cá a breve trecho – e se escrevo “olhando para a programação de concertos dos próximos meses” (e não “para a programação de festivais de Verão”), é porque gostava de assistir a um concerto seu como foi o de Toro y Moi na semana passada no Porto:

um concerto em que as pessoas estão realmente lá para ver um músico em concreto, sem estarem à espera do que vem “a seguir” (a ânsia, sempre), sem consultarem o papelinho ou a “app” para ver o que está a acontecer em simultâneo nos setenta e quatro palcos em redor, sem mastigarem o prego gourmet enquanto conversam sobre as chatices do escritório porque nem estão ali para ver “este gajo, mas o que toca às 23h15 no palco trinaranjus”, etc., etc. um concerto em que rarearam (efectivamente!) os telemóveis no ar e em que houve tempo para o que um espectáculo ao vivo deve ser: intenso, concentrado, divertido, envolvente. casais abracadinhos, gente sozinha a dançar, grupos em histeria (entoando a "Freelance", "pa pa pa pa ra, pa pa pa pa ra ra", como se de um hino de estádio de futebol se tratasse), tipos silenciosos a observar tudo com muita atenção, enfim, um concerto “normal” com pessoas “normais” (impossível descortinar uma ou várias “ondas”, parecia só gente que por um dia se tinha esquecido de levar os adereços de sinalização grupal). e que bom que foi... de concertos “incríveis” já está, como é sabido, o inferno cheio. depois de uma primeira parte esquecível (erika de casier), chaz, sem prolongar demasiado o suspense, entrou a horas decentes (22h quase e 30) para um concerto sólido, charmoso, seguro (os únicos momentos menos bons quando a bateria se lembrava de acelerar sem motivo aparente, escangalhando a orquestração). talvez demasiado eficiente, é certo, mas, novamente, um espectáculo justo, “normal”, sem artificialismos de ocasião (“best audience in the world”, veejaying estéril, etc.), muito bem tocado sob a batuta de chaz no korg. ficou, claro, a impressão de que foi curto, de que se poderia ficar lá horas e horas, que chaz tem repertório para toda uma noite e seus diferentes moods, do disco funk vivaço ao psicadelismo mais negro, “technado” mesmo, para tocar das 5h da manhã em diante. tocou a “Freelance” duas vezes seguidas só porque sim (“- you wanna do it twice?” – “yeaaaaahhh”; - “okay, fuck it, let’s do it”) e despediu-se com a “Rose Quartz” sem concessões (“we don’t make that encore thang anymore”) e sem pingo de sobranceria. belo concerto, sem bullshit, só música e emoções.

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