quinta-feira, 9 de julho de 2020

"As suas casas e filhos tornavam-se fantasmas de uma ilusão passada ao descobrirem com Simi uma nova visão da vida e do amor, mergulhados numa realidade canibalesca. (...) Era tão inocente, sem nunca fazer transparecer o saber da idade, que cada homem sentia ser ele a traí-la, nunca ela que o enganara. Protegiam-na, assim, da fúria das mulheres, aos olhos das quais tal inocência não existia. (...) Simi fora moldada como uma deusa distante (...). Como se nunca tivesse havido qualquer contacto entre ela e o mundo, estes homens com quem ela dormira nada mais sentiam além de desespero, pois só depois se apercebiam de que não lhe haviam tocado. Recapturar o acto era um sacrilégio, o olhar gélido de Simi derrotava os que o desafiavam. E assim os homens não se saciavam jamais daquela que nunca haviam de facto possuído, e a ilusão enlouquecia-os, despertando desejos que nada acalmaria".

(Wole Soyinka, Os Intérpretes, 1965, trad. Maria Helena Morbey)

Sem comentários: