quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

2023 - U KNOW MOVIES, THEY SET U UP…



1 – III Guerra Mundial, Houman Seyyedi
2 – The Fabelmans, Steven Spielberg
3 – Mishehu Yohav Mishehu (Alguém Vai Amar Alguém, 2021), Hadas Ben Aroya
4 – Killers of the Flower Moon, Martin Scorsese
5 – May December, Todd Haynes
6 – Tár, Todd Field
7 – Maestro, Bradley Cooper 
8 – The Whale (A Baleia, 2022), Darren Aronofsky
9 – Babylon, Damien Chazelle
10 – Falcon Lake, Charlotte Le Bon

Menções honrosas (sem ordem): Mascarade (2022) de Nicolas Bedos, Retratos Fantasmas (Kleber Mendonça Filho), No Verão Passado (Catherine Breillat), Consentimento (Vanessa Filho), Ice Merchants (João Gonzalez), Great Yarmouth: Provisional Figures (2022) de Marco Martins, Jeanne du Barry (Jeanne du Barry – A Favorita do Rei, 2023) de Maïwenn.

Decepções (todos os que amamos nos dão alguma em determinado momento): Víctor Erice, Wenders, Woody Allen, Moretti (este último mesmo confrangedor a espaços).

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O melhor filme de 2023 ainda não foi feito: chama-se “A actriz Marine Vacth no filme Mascarade” e encontra-se dependente de financiamento à produção. Assim sendo, e tal como no ano anterior, a nossa primeira escolha vem do Irão. Um filme, pelo que nos temos vindo a aperceber, pouco ou nada visto por cá (embora tenha merecido honras de capa no Público). Sintetizando: trata-se, a alguma distância, do melhor dos filmes iranianos desta nova geração de cineastas que a distribuição portuguesa tem sabido acolher nos últimos anos. Um portento operático, um documento complexíssimo, com a particularidade de se distanciar de alguns dos lugares habituais (quando não comuns) associados à tradição iraniana. Não que precisasse, mas, visto à luz da guerra actual entre o Estado israelita e o Hamas (na qual o Estado iraniano, esse que já negou o Holocausto, sempre intervém de forma mais ou menos subterrânea), as reverberações de um iraniano, muçulmano, na pele de Hitler em plena Endlösung der Judenfrage são ainda mais fascinantes. Tendo estreado em data posterior ao fecho das urnas em 2022, Os Fabelmans recupera agora o seu merecido lugar. A fechar o pódio, um filme… israelita, por sinal também muito pouco visto entre nós. Alguém Vai Amar Alguém é o golpe de asa de uma ainda jovem cineasta (que no filme anterior ensaiava um encontro sexual entre uma mulher israelita, interpretada por ela própria, e um rapaz palestiniano) interessada em sondar as profundidades do amor e do sexo, seguindo, nestes neo-puritanos dias, uma única regra: a curiosidade. Chapeau! Num ano fraquíssimo para o cinema de terror, o melhor horror movie (a música de Marcelo Zarvos…) – ou, mais rigorosamente, home invasion movie – é de Todd Haynes (e a ele e às suas actrizes pertencem a verdadeira cabeça de Jano do ano, mesmo se não filmando uma estátua de duas faces como no canhestro esboço de Víctor Erice…).


A latere:
1. ​Algum do melhor cinema que vimos este ano repousa numa série: Treme (2010-2013), mais uma brilhante criação de David Simon (apenas pecando por uma quarta e desnecessária temporada) para juntar a The Wire (2002-2008), The Deuce (207-2019), Show Me a Hero (2015) ou The Plot Against America (2020).

2. Um pequeno cadeau de Noël. Quem já esteve de alguma forma ligado à produção ou realização de um filme, sabe o quão complexa e desgastante é a etapa da mistura de som. Sidney Lumet resumiu-a assim: “Life has a cruel way of balancing pleasure with pain. To make up for the joy of seeing Sophia Loren every morning, God punhishes the director with the mix.” (in Making Movies, Vintage, 1995).


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