Lembrei-me agora mesmo, como um raio imediato e intensíssimo, de uma cena do filme La Meglio Gioventu do qual já falei por aqui.
Lembrei-me porque estava a ouvir um disco do Tito Paris e começou a tocar a intemporal Sodade. No filme é cantada pela também ela intemporal Cesária Évora.
Recordei então o momento pujante onde o sol toca a terra e o amor nasce. A saudade arranha a alma. É quando esta mulher tão simples quanto líndissima se despede de Nicola. Ela está no porto; ele no navio. Ambos acenam, sorridentes e condescendentes com a suspeita de Amor que começa a crescer entre os dois. Por esta altura, a camera fica desfocada sobre Domenica. Então apenas conseguimos observar um corpo em pé, de farta cabeleira e com uma mão no ar. O sol banhando-lhe o corpo. O mar mesmo em frente e a espuma num vai-vém eterno e... saudoso. A música já toca e o nosso espírito arrepia-se. O sol ilumina a música; a música faz o sol dançar. O mar marca a distância. Que não é definitiva. Que é navegável como qualquer onda. E ela, e o seu corpo místico, ambos continuam lá. À espera.
O navio afasta-se. O corpo imóvel, perfeitamente imóvel. Por mais desfocado e longínquo, ele está lá. Como o sol e a música qe fecundam languidamente o fruto do Amor.
O meu respeito para com o Amor é infinito, metafísico, indomável... é grande, porra, é tão grande!
Abraça-me por favor...!
3 comentários:
Não existe amor?
É Miller amor?
"Não existe amor?"? Essa pergunta acho que nem precisa de ser respondia.
Quanto a Miller, Miller é muito, mas muito mais do que o Amor. É Humanidade. São homens, mulheres, jovens e idosos, trabalhadores e desempregados, herois e vilões... tudo numa mão, numa caneta, numa linha, numa frase.
Miller ficaria fodido se tu dissesses que ele era... "Amor".
Um abraço,
Francisco.
Repensei a tua pergunta e repensei a minha resposta.
Portanto, sim, Miller é Amor. Mas é só uma parte dele. O resto é tudo o que a Humanidade é. Mas isto já disse, não é verdade?
Miller é um Homem. Com tudo o que ele pensa e sente.
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