sexta-feira, 17 de abril de 2009

Agora tenho um crédito.
Que nunca quis ter. Que nunca pretendi que fosse o reverso da medalha.
Entre outras facetas, este crédito é o Tempo que medeia os impulsos, a atracção, os desejos carnais. É a distância que vai entre um sinal, a acusação da sua recepção e a resposta.
Deste crédito deriva um segundo: o da reacção perante a não-emissão do primeiro sinal. Esse é um verdadeiro super-crédito pois sinto poder dar-lhe uso de uma forma avassaladora.
Simultaneamente, sinto uma enorme angústia por me sentir dono deste segundo crédito. Não o querendo, sinto ter o legítimo poder - legítimo porque herdado pelo esforço, sofrimento e, porque não, por alguma razão - de destruir tudo a qualquer momento. Destruir pedra por pedra, até não restar nada. Insultar, vocifrar, espezinhar. Esmagar a desilusão (uma vez mais) com violência. Mas ninguém imaginará como esta possibilidade me é, ao mesmo tempo, assustadora. Assustadora porque esquizofrénica: em vez de cortar com esse crédito (tristemente) ou de ele me ser cortado (alegremente) de uma só penada, assim acabando com dúvidas e frustrações, mantenho-no, esticando-o e flexibilizando-o conforme o meu estado de espírito esteja mais ou menos positivo. Assim, se naquele dia estiver radiante, sou capaz de me interrogar porque razão escreveria uma coisa como a que estou a escrever; num dia de espírito distinto, desejo ser brutal no suprimento do dito. Desejo deixar uma marca de tal forma funda que me faça sentir que estive certo. Que me faça sentir que o devedor, afinal, enganava-me eu durante tanto tempo, não me devia nada. Se porque nunca soube ou nunca quis, esse continua(rá) a ser um mistério.

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