Shame (2011), Steve McQueen.
Como muito acertadamente - as always - escreveu o PM, Brandon (Fassbender) é "um dependente (sexual) que é contra a dependência (afectiva)". Ora, não há cena mais ilustrativa dessa circunstância do que aquele grande plano (que não encontrei em lado nenhum) em que, na primeira noite em que a irmã de Brandon, Sissy, lhe "assalta" o apartamento, Brandon a escuta, atrás da porta, a falar ao telefone com o namorado. É uma conversa terrível, doentia, aquela que, aos soluços, vamos ouvindo: a de alguém (Sissy) profundamente dependente (precisamente) da outra parte, que implora pela sua permanência, como se a solução para esse possível abandono fosse, pura e simplesmente, não existir, por inutilidade de tudo o resto. Não só o conteúdo dessa conversa, mas também a debilidade física de Sissy (o choro, os gemidos, os gritos, o tremer que imaginamos) compõem esse quadro dramático - o da dependência. E é isso que, por detrás da porta, Brandon confirma querer evitar a todo o custo, pelo risco - só pelo risco - de vir a estar/ficar assim. Por isso é que, abraços com esse pavor extremo, Brandon se refugia em relações com um prazo máximo de quatro meses e diz que uma vida inteira com alguém não é "realista". Ser realista é, muitas vezes, uma carapaça para nos protegermos do que a vida tem de melhor (e de mais perigoso, inevitavelmente): a loucura (não no sentido patológico, mas no de nos entregarmos às coisas), a paixão, o imponderável.
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