"Não há dúvida que O Anjo Exterminador é susceptível de ser interpretado. Qualquer pessoa tem o direito de interpretá-lo como quiser. Há quem lhe dê uma interpretação unicamente erótico-sexual. Outros, política. Eu inclinar-me-ia mais para uma interpretação histórico-social. Quando, numa conferência de imprensa em Cannes, perguntaram ao meu filho Jean-Louis porque é que aparecia um urso no meio da festa, ele respondeu: «Porque o meu pai gosta de ursos». E é verdade. Houve quem interpretasse o urso como a União Soviética que ia devorar a burguesia. Disparate total. Depois perguntaram-lhe qual o significado dos 17 planos repetidos no filme. Já tinha previsto essa questão e disse a Jean-Louis: «Responde assim: Porque quando acabou a fita, o meu pai reparou que era pequena e para aumentá-la...». As pessoas querem sempre explicações para tudo. É a consequência de séculos de educação burguesa. Para o que não conseguem explicar, recorrem, em última instância, a Deus. De que é que lhes serve? Era preciso, depois, que explicassem Deus. (...)
Olhe: se o meu melhor amigo, que morreu há muitos anos, me aparecesse, tocasse com os dedos na minha orelha e esta ardesse instantaneamente, nem por um segundo me convenceria que ele vinha do inferno. Não era isso que me faria acreditar em Deus, nem na Imaculada Conceição, nem que a Virgem me possa ajudar nos exames. A única coisa que pensava era: «Luís, aqui tens mais um mistério, que nunca vais perceber»".
Buñuel, a propósito de O Anjo Exterminador (1962), Ciclo Luis Buñuel, Cinemateca Portuguesa e Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Outubro/Novembro de 1982, p. 115.
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