"Tendências", álbum Em Nosso Nome (2012). Sir Scratch.
"Tendências" (homenagem, musicalmente falando, a estes respeitáveis senhores), uma das melhores (e mais divertidas) faixas de Em Nosso Nome (2012) - um disco fabuloso de que fiquei de escrever a crítica, mas que, infelizmente, por contingências de tempo, assim não aconteceu - tem agora um belo tele-disco, o qual evidencia nova homenagem de Sir Scratch ao Cinema. Trata-se de um fascínio que já vinha de um outro tele-disco, mas, sobretudo, do título do seu primeiro álbum - Cinema: Entre o Coração e o Realismo (2005), obra fundamental no percurso histórico do hip-hop em Portugal.
O tele-disco de "Tendências" fixa, com imensa doçura, toda a mitologia classicista do cinema que normalmente associamos à sala escura (não é pleonasmo - as salas dos multiplex actuais não o são, tantas as escadas e respectivos focos coloridos a identificá-las que se contam), ao preto e branco do filme, às intermitências da película, ao som da bobine, às pipocas (em pacote vintage, comme il faut) e, mais do que isso tudo, ao fascínio-obsessão cultivado pelo indivíduo que se senta em frente da tela e dela absorve todas as tramas, os twist, os amour fou. Mitologia, portanto, correspondente aos tempos em que o prazer - algo solitário (não é por acaso que Scratch "vai sozinho" ao cinema) - de ir ao cinema estava no acto de rendição perante o contar de uma história e sua interpretação pelos actores (e não é preciso ser militantemente cinéfilo para degustar as coisas desta forma), e não no gesto puramente consumista, "de entretenimento", em modo chiclete-deita-fora, que é hoje. Enfim (e precisamente)... "tendências".
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