sábado, 18 de janeiro de 2014

Ollgoody's - "Passeio" (crítica)


"O Porto É Isto Oblá", álbum Passeio (2014). Ollgoody's.

Passeio, editado pela Biruta Records, é o título do novíssimo álbum dos novíssimos Ollgoody's, artesãos de rimas e batidas de primeira água. Passeio é um álbum lindíssimo sobre o Porto, as gentes e as ruas do Porto - de um Porto já não exactamente de hoje, mas de um tempo em que, como se ouve a páginas tantas, "ainda se comprava no Bolhão", o Porto, enfim, de um tempo em que ainda se podia namorar nos jardins da Cordoaria. Ou seja, não é um tempo tão distante assim (anos 90, "a" década de Minus e Logos, os autores do álbum, e a minha também, já agora), mas que, em pormenores como estes (e muitos outros, distribuídos em pozinhos ao longo do álbum), parece irremediavelmente, melancolicamente, sumido. Não deixem de ouvir (audição gratuita aqui) e, se gostarem, de ler a minha crítica na Rua de Baixo - ali mesmo (clicar).

Minus e Logos (sem esquecer os versos de Keso) oferecem-nos um passeio pelo Porto (apetece dizer: um passeio de eléctrico, o mesmo que vemos no lindíssimo artwork do álbum) que tem na história de amor entre dois garotos (ou na história de amor entre os músicos e a própria cidade, se quisermos), desde a meninice até à idade adulta, o ternurento pretexto para um retrato de uma cidade e das suas gentes (o Sr. Luís, a Dona Rosete que faz “aquele arroz malandro”, etc.), num percurso que se faz, sobretudo, pela zona antiga da cidade (hoje tão in), com apontamentos históricos de uma nostalgia tremenda – são os “putos que andam à guna nos eléctricos” ou o “mercado do Bolhão onde já ninguém faz compras”, como se ouve em «O Porto É Isto Oblá 2», o primeiro single posto a rodar na net. Se dizemos “retrato” – umas vezes feito por um narrador omnisciente, outras na primeira pessoa («Trouxeste chuço») –, não é por acaso: há uma fortíssima componente visual em “Passeio”, e nem de outra forma poderia ser quando o que se pretendia era captar a psicologia de uma cidade tão visualmente marcante e dotada de uma paisagem singular como é o Porto (é só voltar a ouvir «Porto Sentido», de Rui Veloso, está lá tudo).

(Excerto)




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