Existe uma tendência dos críticos em, levados pelo entusiasmo, caírem no engodo de ampliarem e exacerbarem - caricaturarem, no final das contas... - as virtudes do objecto sobre o qual escrevem. Sempre foi assim, é natural, nada contra - faz parte da arte da crítica, creio mesmo. O problema está no grau de alienação - e, consequentemente, de disparate - que isso, por vezes, comporta. É o caso, muito agudo, dos críticos que, em exercícios fantasiosos, escrevem, actualmente, sobre algumas estrelas pop (mais ou menos jovens, não interessa para o caso: Madonna, Beyoncé, Miley Cyrus, etc.): basta que apareçam, num concerto ou evento qualquer, com uma peça de vestuário com um frase-choque (de carácter vagamente político) ou debitem meia dúzia de palavras sobre algum conflito "global" [não interessa a real relação de proximidade, geográfica e/ou ideológica (se é que estas personalidades sabem o que isto significa...): podem ser as Pussy Riot, o bloqueio republicano ao Obamacare, a guerra civil na Síria e por aí em diante] para algumas cabeças - e que brilhantes são algumas delas, ironias à parte - começarem, de imediato, a tecer uma série de considerações sobre o seu "posicionamento crítico" no mundo, a sua "concepção" do mesmo, a sua "capacidade" de jogar com "as palavras e as imagens", de criar ou renovar "símbolos". De meras cantoras pop - e o "meras" em nada as diminui, mas a César o que é de César - são elevadas a quase - imagine-se! - pensadoras do mundo em que vivemos, dotadas de uma sofisticada capacidade de análise e compreensão da sociedade, ao melhor estilo de um Foucault, de um Lévi-Strauss, de um Baudrillard.
Tudo isto não constituiria mais do que uma banal constatação não se desse o caso de Beyoncé vir, involuntariamente, por os pontos nos "is". Aquela que é apodada de uma grande "feminista dos nossos tempos", de uma mulher cuja visão do género feminino é, hoje, depois dos alegados radicalismo do século XX, "moderna" ("post-feminista", diz-se mesmo), tem, no título do seu mais recente tour mundial, o seu cristalino esclarecimento: The Mrs. Carter Show World Tour (apelido do marido, Jay-Z, de seu nome civil Shawn Carter). Afinal, quem vamos ver e ouvir em palco não é Beyoncé (muito menos a velha Beyoncé Knowles!), mas sim a mulher de Jay Z, a mulher de Shawn Carter. Olhando para o cartaz promocional do tour, a mulher do - ele sim - Rei. A mulher de.
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