Vestiam coletes com a sinalética do município enquanto arranjavam o jardim, mas algo me disse que as duas mulheres não estavam no seu habitat natural, talvez pela forma pouco profissional com que lidavam com o assunto, talvez pela cumplicidade que, ao longe, pelos gestos e esgares que trocavam, lhes advinhei. Cabelo loiro desgrenhado, quarentonas, gastas e mal tratadas pela vida e por si próprias. Creio que seriam duas presidiárias, numa saída para "trabalho comunitário". Quando passei mais de perto por uma delas, debruçada num saco do lixo e com uma vassoura na mão, a mulher elevou-se e, quando se preparava para falar com a outra que tratava do jardim mais ao longe, acabou por desabafar, fanfarrona, com os dois: "Vida de jardineiro é fodida... Rai's parta a jardinagem".
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