segunda-feira, 31 de agosto de 2015

cinéma vérité


(Safe, 1995, Todd Haynes)
 
1. «Marine Richard, de 39 anos, sofre de hipersensibilidade eletromagnética e não pode estar junto de telemóveis, 'routers', televisores ou outros gadgets, tendo alegado estar impossibilitada de trabalhar».
 
 
2. «Se tudo isto (a “doença” de Carol) é real (patológico) ou pura ficção (paranóia), é coisa que o filme, deliberadamente, nunca esclarece, já que, nas idas ao médico, o diagnóstico é sempre o que de nada de anormal se passa com a sua saúde. É Haynes a “medir”, queremos dizer, a confundir as fronteiras da percepção comum sobre a noção de “loucura” – Carol está mesmo doente? E se está, de quê? De depressão? Ou da tal “environmental disease”? Mas isso existe mesmo? Ainda que haja esse propósito claro em desfocar a fronteira que convencionalmente traçamos entre sanidade e insanidade [a mesma que é colocada em causa, ainda que em termos distintos, mas tendo outrossim uma mulher como protagonista, por Rossellini em Europa ’51 (1952)], nem por isso deixa de ser evidente que a “doença” de Carol parece ser outra: o profundo vazio, o absoluto tédio, a perfeita esterilidade do seu dia-a-dia, pontuado por lanches com amigas tão frívolas como ela própria, idas ao ginásio e ao cabeleireiro e cujo ponto alto é o “susto” com o facto de a cor do sofá encomendado para a sala de estar não corresponder à pretendida. É a somatização deste imenso tédio e dos seus “químicos” (sofás, cabeleireiros, ginásios) que, a pouco e pouco, fará de Carol um ser perfeitamente alienado (“alienígena” mesmo), débil (Carol tem por apelido “White”, que condiz com a sua cor e com a do leite que muito infantilmente bebe no filme) e fantasmático (as deambulações solipsistas pelo jardim de sua casa a meio da noite)».
 

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