A Playlist de Janeiro da equipa do Rimas e Batidas está aí. Dou uns toques com a "Room In Here" do Anderson .Paak. Leiam e oiçam todas as escolhas ali ao lado.
“Room in Here” talvez nem seja a melhor canção de Malibu, mas é a mais orelhuda e a que mais rapidamente se me colou ao coração enquanto escutava aquele que é já, em Janeiro, candidato a um dos álbuns do ano, algo que a imprensa em geral obviamente não reconhecerá, forçada que está a acompanhar os sound bites, por mais ocos e desinteressantes que sejam (os pares de Adidas que vendi, os óculos de sol que a minha mulher se dá ao luxo de perder, etc.), de Kanye West, Pusha T e afins (chegam a ser admiráveis as cambalhotas que os críticos fazem para elogiar ou, pelo menos, não depreciar uma canção como “FACTS”, um arrazoado patético sobre estatísticas que só interessam ao umbigo do seu autor – e digo isto com o disclaimer de que Kanye é e será sempre um dos meu rappers preferidos por tudo o que fez até 2010 inclusive e por algumas coisas, poucas, depois disso). Anderson .Paak é uma das melhores coisas que aconteceu ao hip hop nos últimos anos, condensando em si toda a tradição da música negra (do rap aos blues, da neo-soul ao R&B), mas também o rock e uma apurada sensibilidade pop (ecos do Underneath the Pine dos Toro y Moi), artista dono de uma voz tão melodiosa na canção quanto inteligente e ágil no rap, bem assim temperada por uma rouquidão muito, muito sedutora (por vezes a fazer lembrar o próprio Kendrick Lamar). Não satisfeito, .Paak é o letrista de todas as suas canções, e, contra aqueles que minimizam a importância da autoria letrista no hip hop, importa lembrar que o busílis da questão não está na “autenticidade” que essa autoria confere ou não, mas, bem mais importante, numa coisa bastante simples chamada talento e no papel fundamental que a letra (“barras”, na gíria própria do meio) teve desde sempre no hip hop enquanto expressão do indivíduo e sua singularidade (muitíssimo mais que tem noutros géneros, obviamente: a questão nem se põe no fado, por exemplo, onde é absolutamente normal e bem-vista a interpretação de poemas de terceiros). Drake e Dr. Dre (e como eu gosto deles) até poderão continuar a ser excelentes rappers, mas ninguém me consegue vender a ideia de que o facto de não serem eles, afinal, os autores daquilo que dizem e supostamente pensam – e que milhões de fãs reproduzem há uma data de anos (às vezes até como lemas de vida!), associando citações aos seus ídolos e à sua (pretensa) personalidade – não menoriza o seu trabalho. Voltando a “Room in Here”, as partes distintas de .Paak e de The Game operam uma curiosa divisão interna na canção: na primeira, o tom é mais abstracto, poético; na segunda, Game é raw como de costume, como se traduzindo em termos mais simples o que estava latente nos versos de .Paak. Em comum, a vontade de conquistar a mulher amada, de a convencer que há room (e o termo vale, aqui, quer como “espaço”, quer em termos mais literais…) para ela, de que basta ela querer… “Face like Mona Lisa / I’m just tryna be the wall to hang on…”
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