sexta-feira, 18 de março de 2016

Sam The Kid: a arte superior de um contador de histórias (Parte III)


Fotografia: Vera Marmelo

Foi publicada hoje a terceira e última parte do meu extenso artigo sobre o storytelling de Sam The Kid.

Com a publicação desta última parte, fecho, por agora, a minha homenagem àquele que é o artista que mais me acompanhou na minha vida até esta parte. Na viagem de metro até à angustiante Faculdade de Economia (como é que se permitiu que os interiores de uma faculdade fossem todos pintados de preto?!); na viagem de ida e volta de carro com o meu irmão (tão pequeno que ele era, porque é que também foi?) até Coimbra para o funeral do pai da Inês; em tantas outras viagens de carro a sítios dos quais guardo boas e más recordações (e como ele era importante no regresso dos sítios onde não fui feliz...); tardes que o fiz ouvir ao meu pai, para o tentar convencer, sem grande sucesso, do enorme artista que ali estava (mas o amor com o meu pai também se faz, sempre se fez, disso, do choque e da discussão); amigos e namoradas a quem o passei, muitas vezes se consolidando cumplicidades que já se haviam insinuado; num interrail, em 2007, a ouvir, um phone no meu ouvido e outro no do Pti, a "A Diferença" mil vezes em loop; festas e mais festas onde tantas vezes fui dizer o nome dele ao DJ; concertos e mais concertos onde o vi, como aquele numa Queima do Porto, eu e o Henrique para lá de bêbedos a cantar "A partir de agora!", ou aquele no Rock in Rio com o Eva e o Coelho, ainda com o Snake, tronco nu e boxers de fora, ao seu lado (que descanse em paz); quando perdi um carro num insólito e uma das primeiras preocupações que tive foi a de conservar e secar a caixa e o booklet com as explicações do Pratica(mente); o Tavares e eu, 4 ou 5 da manhã no carro em baixo do prédio, a sacar, palavra por palavra, a letra toda da "Placas"; a primeira vez em que peguei num cd dele, o Sobre(tudo), na casa da Mimi na Murtinheira, o Marçal a dizer-me "ouve isso, puto, este gajo é do caraças..." (que pena o Marçal agora estar completamente desligado da cena...); ... Enfim, tantos e tantos outros momentos, bons e maus, em que sempre tive a voz dele na minha cabeça a ressoar um monte de coisas, dando o mote ou a palavra certa para o que estava a sentir ou precisava de interiorizar...

A certa altura, senti que escrever este artigo era como cumprir um dever comigo mesmo. Espero que o resultado final seja do agrado de toda a gente que se sente tocado pelo génio do Sam The Kid - Kid, sempre.


Para ler: Parte I, Parte II, Parte III.

"Nas duas canções que temos vindo a analisar, o que temos é um clímax marcado por uma conclusão mais ou menos trágica, em todo o caso passando ao ouvinte uma lição de moral – não de moralismo, entenda-se –, na melhor tradição do conto tradicional. Em “6 Ta Feira”, a moral é, no fundo, a subjacente ao adágio “quando a esmola é grande, o pobre desconfia”, no sentido em que Janice se fez oportunisticamente passar por interessada em ter um affair com o narrador quando, na verdade, apenas está interessada em ficar com o seu trabalho. Há, aqui, reminiscências de outro célebre storytelling de STK, “O Recado”, mais precisamente, no jogo de valores implicado no comportamento da personagem de Janice: STK confiou nela (Confiança), mas ela só lhe queria roubar o seu trabalho (Ganância), o que faz com que STK a despreze e a insulte (ele “perde-lhe” o Respeito)".

[Excerto]

1 comentário:

Dr. Gonzo disse...

Grandes tempos!! Retrospectivas :)