Tem muitos sinais pelo corpo, uns maiores, outro mais pequenos. No seu rosto negro, debaixo das pálpebras, eles assemelham-se a pequenos grãos de areia, rasos e escuros, dando a ideia de que se podem desprender delicadamente a qualquer momento (nunca se desprenderão, porém). Areia; como se um dia ela tivesse sido rocha numa das muitas terras que lhe correm no sangue (Cabo Verde, Timor, quem sabe Brasil, até...), como se o tempo, o vento e a água tivessem feito com ela o seu trabalho de erosão, sem jamais conseguirem apagar, contudo, as derradeiras origens das suas ancas, dos seus seios, do seu cabelo, dos seus lábios.
"Sinais". Grãos de areia como resistência, réstia de memória dos distantes continentes habitados pelo calor e a humidade que te faltam aqui. Tu és um alegre ser do passado, cada movimento do teu corpo carregando séculos de história. Milhões de sóis, suores, sangues, salivas.
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