eu só pensava se ele teria tido sucesso. não me parecia ser altura suficiente, quero dizer. dois andares, o que são dois andares, dá para muito boa gente se estatelar ao comprido, não digo que não, mas para conseguir chegar ao fim da corrida? que raio, até a cortar a meta os deuses conseguem ser cruéis. por que razão será? ironia, cinismo, vingança? de repente, uma mulher, velha, abeira-se daquela varanda e olha para baixo. tem um cigarro entre os dedos, leva-o à boca, continua a olhar para baixo, exala o fumo. perfeitamente hirta, não está debruçada, alheia às silhuetas humanas nas janelas em redor, outra passa, olha em frente, depois novamente para baixo. uma placidez absoluta que não é tranquilidade ou alívio, outra coisa. e porque as imagens, de facto, não nos largam, dias depois, num radioso dia de praia, a minha mãe comenta que o irmão do vizinho se despenhou de uma varanda. e eu olho em frente, para o mar, um cigarro entre os dedos, respondo, exalo o fumo, continuo a mirar o azul.
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