vejo agora como, tantos anos depois, continuo à procura em quase tudo aquilo que faço da emoção suprema que a bola nos pés me dava em miúdo. como naquele domingo de jogo, no pelado da Ervilha, em que alguém cruza da esquerda, talvez o Pipoca, e eu, a meio-campo, flicto a perna direita, cruzo-a por baixo da esquerda e recebo de calcanhar. um gesto licencioso, completamente fútil, porém inescapável. o meu eu adolescente resumido numa fracção de segundos, o suficiente para instalar um silêncio sepulcral, seguido de um restolhar de admiração. e uma felicidade infantil, sem dúvida egocêntrica, que experiência alguma jamais igualou. há-de ser talvez a única sensação a que associo uma palavra de que sempre desconfiei: pureza.
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