Deixei a carta selada depois
do inusitado
e apaziguador carteiro
me devolver a vida
que trazia na sacola.
disse-me que havia sido rejeitada
com a indicação de
"buraco desconhecido".
Pôs-me a mão no ombro e
quase me obrigou a lamber, ali mesmo,
o envelope com
o cuspo seco e aflito de
quem conserva cartas
sem ter lugar para as guardar. Não
ripostei e dei-lhe a carta para a sacola.
Nessa tarde, sei bem
que era de tarde,
enviei uma carta e
recebi outra. A primeira chegou,
continua ainda hoje a dizer-me o carteiro, ao seu destino;
a segunda, essa, a devolvida, continuo sem lugar
para a esconder.
mas o carteiro sempre diz:
"já não há nada para esconder!,
confie em mim!", brilhando-lhe
os olhos.
E eu, então, confio e
escrevo cartas e letras e palavras
e linhas
e isto.
Tudo isto
eu escrevi depois da tarde em que
o inusitado
e apaziguador carteiro cedo chegou,
desesperadamente cedo chegou.
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