sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A noite é a
maior ilusão de
todas.
e por isso mesmo
é que nós os
desiludidos a fruímos
sempre que podemos.
e o fruir é tanto maior quanto
maior é a supresa com que ela nos abraça
se roça, nebulosa
raposa
em nós.

Deitamo-nos com a boca seca
e damos graças à noite
damos graças
pela noite.

(talvez o nosso erro seja receá-la e
não a consumir mais vezes)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

aquele que um dia disse
que outro homem
tinha um "amante" foi o homem que
na verdade pecou. Traíu a
palavra.
Os amantes amam-se, permitam-me pôr
alguma ordem no universo.
Boa tarde, eu sou o
mensageiro x e como
as coisas estão tão más nós
devemos perguntar-nos será
que deus existe será que
nos ajuda

Sim... mas olhe eu já
reflicto o suficiente sozinho por isso
obrigado.

É bom sinal então, obrigado
e boa tarde. Boa tarde
obrigado eu.

domingo, 25 de outubro de 2009

tu disseste


Tu disseste: "Quero saborear o infinito"

Eu disse: "A frescura das maçãs matinais
revela-nos segredos insondáveis"

Tu disseste: "Sentir a aragem que balança os dependurados"

Eu disse: "É o medo que nos vem acariciar"

Tu disseste: "Eu também ja tive medo. muito medo;
recusava-me a abrir a janela, a transpor o limiar da porta"

Eu disse: "Acabamos a gostar do medo,
do arrepio que nos suspende a fala"

Tu disseste: "Um dia fiquei sem nada.
Um mundo inteiro por descobrir"

Eu disse: "O que é que isso interessa?"

Tu disseste: "Nada..."

Tu disseste: "Agora procuro o desígnio da vida;
às vezes penso encontrá-lo num bater de asas,
num murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon;
escrevo páginas e páginas a tentar formaliza-lo.
Depois queimo tudo e prossigo a minha busca.

Eu disse: "Eu não faço nada.
Fico horas a olhar para uma mancha na parede"

Tu disseste: "E nunca sentiste a mancha a alastrar,
as suas formas num palpitar quase imperceptível?"

Eu disse: "Nao. A mancha continua no mesmo sítio,
eu continuo a olhar para ela e não se passa nada"

Tu disseste: "E no entanto a mancha alastra
e toma conta de ti, liberta-te do corpo. Tu é que nao vês"

Eu disse: "O que é que isso interessa?"

Tu disseste: "Nada..."


Mão Morta, "Tu disseste"

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

aspas

se sempre fosse
sempre, seria
"sempe"
porque
só assim a
eternidade deslizaria
por entre
o líquido entardecer
das palavras de quem sente.
Mas como sempre sempre
tem um érre, há
sempre quem
ferre o que de
"sempe" sempre
tem.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

isto é muito bonito...



Uma das mais belas odes ao Hip-Hop (musical e filmicamente). Doce, doce, doce...

[Norah Jones:]
Life's filled with graaaay...
But now, it comes clean...
Leaves fall, awaaaaaay...
Hip-hop is playing again
And it's bangin, toooo...
Know it's bangin, for you...
Don't stop this feeling I feel...
I just wanna lay around all day
And feel the breeze upon my knees
I'm so INTO your rich history...
Tell me a story to taaaake me away...
Come and take meeeeee, ooooooh...
Come and take meeeeee with yooooou...

[Chorus x4: Norah Jones]
Life is, better
Now that, now that I found you
Life is, better
Now that, now that I found you

sábado, 17 de outubro de 2009

Deixei a carta selada depois
do inusitado
e apaziguador carteiro
me devolver a vida
que trazia na sacola.
disse-me que havia sido rejeitada
com a indicação de
"buraco desconhecido".
Pôs-me a mão no ombro e
quase me obrigou a lamber, ali mesmo,
o envelope com
o cuspo seco e aflito de
quem conserva cartas
sem ter lugar para as guardar. Não
ripostei e dei-lhe a carta para a sacola.
Nessa tarde, sei bem
que era de tarde,
enviei uma carta e
recebi outra. A primeira chegou,
continua ainda hoje a dizer-me o carteiro, ao seu destino;
a segunda, essa, a devolvida, continuo sem lugar
para a esconder.
mas o carteiro sempre diz:
"já não há nada para esconder!,
confie em mim!", brilhando-lhe
os olhos.
E eu, então, confio e
escrevo cartas e letras e palavras
e linhas
e isto.
Tudo isto
eu escrevi depois da tarde em que
o inusitado
e apaziguador carteiro cedo chegou,
desesperadamente cedo chegou.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

a diferença que afinal é igual hoje e ontem

Ouvi pela primeira vez esta música cantada pelo Jamie Cullum. E lembro-me tão bem de quando foi...
Há dias, ouvi-a cantada por Dinah Washington, no filme Chungking Express.
Coisa bela, hein?:



"Twenty-four little hours
Brought the sun and the flowers
Where there used to be rain

My yesterday was blue, dear
Today I'm part of you, dear
My lonely nights are through, dear
Since you said you were mine

And the difference is you..."

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

bota-coisa-nenhuma

Neste país, enquanto autocarros fazem greves e pessoas chegam tarde a casa e às sua famílias, enquanto casais de namorados discutem com olhos de amargura e indigentes passeiam a fome numa mão suja da moeda que nos sai do bolso (a uns mais, a outros menos), há quem se lembre de fazer uma festa de inauguração de um estabelecimento comercial que vende cafeteiras. Neste país, nos poucos autocarros que levam os cúmplices anónimos para os seus lares, os olhares retêm-se na bizarria de uma festa de inauguração onde não falta tapeçaria vermelha, garçons engravatados, focos de luz hollywodescos, muito design muito roxo e muito preto (que é "sóbrio", e muito), música de melodia nenhuma bem alta, mulheres vagamente sencientes de vestidos para ocasião e convidados com uma desgostosa "honra" inscrita algures entre a testa e e o chão que pisam.
Neste país, que uns apelidam de "novo-rico", que outros acusam de um viver "bacoco" e ainda onde muitos resmungam para o lado: "cambada de parolos", neste país, é neste país, que eu vivo. Não tenho outro. Nem quero ter. Gosto dele.
Mas quero escrevê-lo e ser livre para o chamar de novo-rico, bacoco e entrever a cambada de parolos que nele cava uma vala de idiossincrasias plásticas, que nos são estranhas, que não são nossas.
Este país deu-me a liberdade e eu faço por a merecer.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

=

Também nós os dois vivemos à noite, como nos filmes...
Sofremos e sorrimos, de passagem. Sempre de passagem. Tudo é de passagem, aliás... Como eles, como nos filmes.
Deixemo-nos cair no verde, ao menos. Essa sorte ainda eles a tiveram... os dos filmes.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Era nostalgia, era melancolia, era um fim de dia, já pela noite, olhando os rostos dos outros à minha volta, sofrendo por mim e sofrendo por eles, nem eles próprios sabendo de tal.

(...)

Porra!, não... não. Era só eu e mais uma dúzia de pessoas a irem para casa. Só isso. Só.
Podia ser só isso, podia.