Se Hopper fosse vivo, teríamos todos em casa um daqueles livros grandes no qual, entre outros, figuraria um quadro onde se vêem dois homens, à noite, parados num passeio iluminado a amarelo torrado de uma avenida larga e anónima, defronte da vidraça de uma loja já fechada fixando o olhar no televisor luminoso que, de lá de dentro, lhes mostra, num silêncio absoluto, um jogo de futebol, alumiando-lhes o rosto que não vemos. Pelo traço, compreende-se que os homens não se conhecem, não falam sequer, que o seu encontro foi fruto do maravilhoso acaso da urbe moderna, onde todos se cruzam, as pontas dos sobretudos se tocam mas ninguém se relaciona. Têm ambos o pescoço flectido para a frente, próprio de quem observa o seu objecto com atenção, e os braços descaídos, em paralelo.
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