"(...) a reabilitação urbana não salva um país, desde logo porque é mais cara. Há uma reabilitação que pega no edifício e lhe trata das mazelas, mudando a rede eléctrica e as canalizações, mas, se se mexe na estrutura, cai tudo. Isso acontece sobretudo em Lisboa, onde a construção do final do século XIX é muito má. E é proibido mexer na fachada, o que é um absurdo económico. Porque há uma reabilitação low-cost e outras naturalmente mais profundas. Além disso, o que dá unidade não são as fachadas todas iguais, na medida em que, ao longo dos tempos, sempre houve misturas, edifícios semelhantes e outros que se destacam. O que dá unidade é a qualidade do espaço público que as ordena, a sucessão de ruas, largos e praças. E perdeu-se essa cultura, que é mais importante do que os edifícios parecerem todos iguais, certinhos, como foram feitos. É muito mais importante que as ruas se prolonguem com a mesma qualidade.
(...)
(...) uma rua é tão importante como um edifício. E essa força pode vir só de um alinhamento de árvores, que, às vezes, tem uma papel semelhante à sequência de fachadas. Concluindo: o espaço tem forma e desenho, daí o erro de Corbusier, quando atacou a rua. Os limites entre rua e edifício são ambíguos. Um enforma o outro. Mas um precede o outro. Tudo ao mesmo tempo é excepção. E tal como os edifícios, as ruas também têm programa, que responde a necessidades colectivas que não podem ser resolvidas nos edifícios".
Nuno Portas, em conversa com Siza Vieira, Jornal de Letras, Ano XXXII, n.º 1093, 22 Agosto a 4 Setembro 2012, p. 7 e 8.
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