Creio que aquilo que queria dizer quando me referi à amizade "enquanto arte do conhecimento do outro e das suas diferenças, enquanto arte, portanto, da tolerância", era, em boa medida, o que Foucault chama, a propósito da disciplina que os gregos impunham para o corpo e para a fruição dos prazeres, de arte ou técnica da existência, isto é, como "prática reflectida de si", como "questão de pensamento, de reflexão e prudência", como "cuidado que atravessa a vida quotidiana" (História da Sexualidade, II, Relógio D'Água, 1994, pp. 123-125); como, enfim, um exercício permanente de aproximação e apalpação, em que a curiosidade pelo modo-de-ser do outro, pelo que é diferente de nós, coabita com o afecto e o carinho em que ele se expressa no mais banal ou excepcional dos gestos.
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