Ferrugem e Osso (2012), Jacques Audiard.
Os melhores filmes de 2013 para o À pala de Walsh já foram revelados. Lá poderão encontrar quer a lista final (resultante da contabilização das escolhas de todos os Colaboradores), quer as listas individuais. Sobre a minha lista, quero esclarecer, para quem interessar, dois aspectos.
O primeiro é que não tenho, nem de perto nem de longe, a pretensão de pensar que a minha lista tem os melhores filmes de 2013, canonicamente falando. Não, a coisa é bem mais modesta: são os filmes de que mais gostei. Ponto. Por isso é que me dá um certo gozo - e não é pela mera "excentricidade" da coisa, podem crer - ver que o Ferrugem e Osso só figura na minha lista individual. Pois é: pu-lo no lugar que pus (9.º) e, ainda assim, foi dos filmes que mais me tocou nestes (quase) 365 dias.
O segundo aspecto prende-se com um inevitável exercício desculpabilizante que não consigo deixar de fazer neste tipo de seriações (sempre injustas, não há volta a dar): há alguns filmes que não vi e, que, por esse motivo, não poderiam constar desta lista. Nalguns casos, porque não chegaram às salas do Porto, nos restantes, porque estrearam recentemente e ainda não tive oportunidade de assistir (alguns que inclusivamente já saíram de sala). Alguns exemplos do primeiro tipo: Terra de Ninguém (Salomé Lamas), Tal Pai, Tal Filho (Hirokazu Koreeda), O Som ao Redor (Kléber Mendonça). Do segundo tipo: O Passado (Farhadi), O Desconhecido do Lago (Guiraudie).
Depois, enfim, há outros que simplesmente perdi: A Noiva Prometida (Burshtein), O Profundo Mar Azul (Davies), Não (Larraín), Vénus de Vison (Polanski), 00:30 A Hora Negra (Bigelow).
Explicando melhor o que quis dizer a propósito do Ferrugem e Osso.
Não creio que o que de positivo estas ordenações eventualmente transportem seja o rigor das coisas, a cerebralidade das escolhas. Isso não me interessa, ou não me interessa em grande parte. Fazer uma lista destas só faz algum sentido se nos der prazer, se nos permitir recordar, com gosto, com emoção, com ternura, as imagens que vimos no escuro. Como essa imagem justa em que uma mulher amputada (e tomara que fosse só fisicamente...) faz amor com um bruta-montes (mandemos às urtigas, então, o adágio godardiano: sim, c'est une image juste): a justeza da/na imagem, a justeza da/na captação (precisa, instantânea, única-no-tempo), num acto tão íntimo como é esse, da doçura e fragilidade de duas lost souls perdidas num corpo que não dominam, que lhes é estranho, que não desejam... O Corpo (também) é um lugar estranho.
E é isto. Voltaremos ao escuro e às imagens, amantes que somos de fantasmas, de ritos caducos, de mitos esquecidos. Feliz Natal.
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