"O mistério estava na matéria de que eram feitas as imagens e da estranheza que aqueles corpos me despertavam, a sua teatralidade abissal, vinda de um tempo – ou de uma maneira de “dar a experimentar o tempo” – que definitivamente não era o meu. O outro locus do meu fascínio estava nesta ligação que ainda hoje carrego dentro de mim e que não consigo deixar de cultivar: a cinefilia é coisa para noctívagos, coisa para vampiros, coisa para necrófilos, para quem se alimenta da escuridão, do desconhecido, da solidão e, enfim, da morte. O cinéfilo é um amante de fantasmas, do que partiu e não volta mais, do que a sociedade se precipita em enterrar ou considerar caduco. A cinefilia é um acto insurreccional, um voodoo que convoca o Deus-pagão cinema para reanimar as estrelas cadentes e os mitos esquecidos. É, portanto, uma actividade primitiva, um “rito” que pertence, por inteiro, às noites de lua cheia".
Texto obrigatório do Luís Mendonça, no À Pala de Walsh.
1 comentário:
Obrigado, caro Francisco!
Grande abraço!
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