Um por um, todos os namoros da faculdade terminam. Já não resta quase nenhum. Folhas que caiem; restam os cheiros e as cores. Os homens dizem quase todos o mesmo do fim. Elas, quase sempre as responsáveis pela última palavra (isto tem muito de enganador, porque o último a falar, ou a balbuciar, ou seja, o homem, é, na verdade, o que leva o golpe), não sei.
Tudo isto não me deixa de provocar uma enorme tristeza, por associar os meus tempos da faculdade, ou por também os associar, a esses namoros (inclusive o meu, naturalmente), a essas pessoas, a esses encontros de almas improváveis, seduções todas iguais na forma como floresceram (e não é por isso que são menos bonitas) mas certamente únicas na intimidade que nunca presenciei. Um livro trocado numa sala de aula (lembro-me de uma aula, todos cabeças descaídas, em que éramos uma fila inteira a ler a "grande literatura universal", de Joyce a Kafka, García Marquez ou Orwell), um encontro casual na mesma estação de comboios no regresso a casa, uma piada atabalhoada que desperta, subitamente, o interesse de alguém. Banalidades, trivialidades que juntaram os mais parecidos e os mais diferentes, os mais tímidos com os mais tímidos, os mais expansivos com os mais expansivos, os mais tímidos com os mais expansivos. Os mais bonitos com os mais bonitos, os mais feios com os mais feios, os mais bonitos com os mais feios. Quem encontrou o seu "outro lado" nesses tempos de faculdade - é isso que, por essa altura, procuramos, sem saber, nesse amor por alguém, a auto-descoberta-descobrindo-o-outro - foi, não tenho dúvidas, mais feliz dos que tiveram o azar - ou que o não quiseram, é bem possível - de não o encontrar. Há algo de doce, doce mesmo de sabor e não de metáfora, nesses amores. A minha boca enche-se de saliva quando penso e escrevo isto como quando penso num doce. Fico, como se costuma dizer, com água na boca e nos cantos da boca. Eventualmente, uma gota ou duas também no canto dos olhos.
Amores que duraram e duraram. Anos. Muitos. Ilusões viradas certezas, certezas viradas ilusões. Já não temos livros-para-trocar, horas-e-meia-para-almoçar, cineclubes-para-programar, debates-para-organizar, jornais-para-redigir. Foi-se (vai-se, aos poucos) um bocado grande de mim quando vocês, namorados valentes, caíram. Folhas que caiem, folhas que caíram.
Depois. Depois, há a Primavera e o Verão. Outros tempos, outras faculdades. Mas não sinto o doce na boca. Paladar: cinco sentidos menos um.
2 comentários:
gostei muito disto.
abraço
Obrigado, Pedro. :) Tenho que começar a escrever coisas de que gostes por razões mais felizes. eheh.
Um abraço,
Francisco
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