Saí para correr. Não sei porquê, já que há muito não corro. Subi a avenida. Seriam umas duas, três da manhã, dia da semana, não se via vivalma. A noite estava estranhamente calma e quente, com uma particularidade: não havia iluminação alguma, nem dos candeeiros de rua, nem das casas, nem das publicidades dos prédios. Nada. Apesar da hora, não era, ainda, absolutamente noite - quer dizer, era, o escuro é que não era absoluto. Olhei pela avenida abaixo e uma fresta de luz ainda resistia. Embora a visse deste ângulo, parecia-me estranhamente próxima, como um desenho de uma criança, um amarelo torrado gigante por cima de mim contrariando a escala dos espaços. Progressiva mas rapidamente, como acontece nos pores-do-sol, a luz desapareceu, como um pano com que alguém, com uma mão e de uma assentada, cobre um objecto. Breu. O mundo tinha acabado. E agora? Agora que o mundo acabou. Alguém me acenou do outro lado da rua, um homem negro que parecia à vontade com o fenómeno e que me convidou para subir a sua casa. Não me recordo do resto.
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