Voltei a co-confeccionar a Sopa de Planos e, desta vez, o meu ingrediente é uma boina, a do Jacques Demy e a que o meu pai me punha em miúdo.
Para ler no À pala de Walsh (clicar).
"Morro de amores por Jacquot de Nantes, um dos mais belos filmes de Agnès Varda, um dos mais belos filmes da história do cinema. A última vez que o revi tinha Varda por perto – quer dizer, a umas dezenas de cadeiras ao meu lado –, o que reforçou ainda mais a sensação, que tive desde a primeira vez que o vi, de o filme ser um bocadinho também “meu”, por nele me rever enquanto miúdo. Os meus pais, o meu prédio, as brincadeiras com os meus vizinhos, mas, sobretudo, por esse pormenor sem o qual o meu pai não me deixava sair à rua: a boina. Uma boina orgulhosamente basca que o meu pai me punha onde quer que fossemos, sobretudo nos passeios de bicicleta (nos quais eu dormia abundantemente na cadeirinha de trás) pelos bosques de terriolas perto de Vila do Conde até chegarmos à praia (momento em que o sono desaparecia num ápice). Por isso, o registo biográfico de Demy no filme encontra-se com a minha própria “biografia”, sendo este um dos casos em que o “metermo-nos dentro do filme” (como um dia disse Jean-Marie Straub) não me traz angústias nem ansiedades; alguma nostalgia, sim, mas, acima de tudo, a ideia de que, por vezes, a vida é tão feliz no ecrã como fora dele".
2 comentários:
Que texto tão terno, Francisco! Consigo recriar-te perfeitamente através dessa descrição.
A magia do bom uso das palavras ou das boas recordações.
M.
obrigado, M., fico contente que tenhas gostado :) beijinho
Enviar um comentário