(All That Heaven Allows, 1955, DS / Lola, 1981, RF / Wonder Wheel, 2017, WA)
Notas soltas:
1. Um pormaior: no filme do Sirk e do Allen, a mulher protagonista é captada, na grande maioria das variações cromáticas, sob tons azuis (uma das grandes excepções está na imagem acima, em que tanto a Jane Wyman como a Winslet estão "avermelhadas"), pois ambas estão/são "blue", claro; pelo contrário, no "Lola", a Barbara Sukowa é quase sempre - para não dizer sempre - captada sob tons vermelhos. Talvez - ou sem dúvida - porque esta última tem a força, a determinação, o Poder (é disto que falam, afinal, todos os filmes do Fassbinder) que as outras - mais constristadas, derrotadas, "acabadas" - não têm. O Desejo percorre os três filmes, mas Lola é a única mulher que não o reprime, daí o vermelho desenfreado, tórrido, enfim, "saturado" - o psicológico (da composição das personagens) e o plástico (da luz) a coincidirem. Resta saber (não me recordo) se, nestas cenas acima dos filmes do Sirk e do Allen, as mesmas não correspondem a momentos pontualmente fortes, "de poder", das personagens (eventual justificação, então, para o vermelho).
2. Outro exemplo com interesse para aqui: "Il mistero di Oberwald", visto há pouco. As variações cromáticas são ainda maiores e, tudo leva a crer, menos esquemáticas - elas "afectam" mais personagens (não apenas as principais) e, mesmo em relação a cada uma delas, há alterações ("variações de variações", então) durante o próprio filme. Aqui, numa das cenas iniciais, a Vitti está "blue", em todos os sentidos (existencialmente prostrada; romanticamente “morta”; o fantasma do marido, morto há 10 anos e cuja data ela celebra num jantar impossível a dois com o retrato dele como presença espectral). Mulher “blue”, mas de um azul complexo, aguado, talvez: melancólica, mas simultaneamente dura e intratável no relacionamento pessoal com terceiros – e, não obstante, prestes a ser devorada pela conspiração tecida pela sua sogra e o Conde (chefe das polícias do reino). Com o desenrolar do filme, não só Vitti vai crescer e fortalecer-se emocionalmente, como enrijecer a sua posição na decisão dos destinos da coroa – e, por isso, não a vemos nunca mais, salvo erro, sob filtro azul (não me recordo, porém, se outra cor, eventualmente o vermelho, lhe será colado)... Até que morrerá numa cena inegavelmente evocativa do “Rancho Notorious” (e, claro, de Shakespeare e “Romeu e Julieta").
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