"«Dos bezerros faz-se o sebo, das pessoas dinheiro», eis como é caracterizada nesta «filosofia da avareza» o ideal do homem honrado e digno de crédito; e, sobretudo, a ideia do dever do indivíduo para com o interesse no aumento do capital, tomado como um objectivo em si. Na realidade, o que aqui é defendido não é uma simples técnica de vida, mas uma «ética» particular, cujo não cumprimento é considerado não apenas loucura, mas uma espécie de falta ao dever. É sobretudo este aspecto que caracteriza a natureza da questão [da especificidade do «espírito do capitalismo»]. Não se trata aqui apenas de lições sobre «esperteza para o negócio» - o que, de resto, é frequente encontrar - mas de um ethos que se expressa, e que nos interessa precisamente nesta qualidade. Perante um associado que se havia retirado dos negócios e que o aconselhou a fazer outro tanto, dado já ter ganho o suficiente e querer deixar que outros ganhassem também, Jakob Fugger classificou isso de «pusilânime», retorquindo que «ele (Fugger) tinha uma perspectiva totalmente diferente; queria ganhar enquanto pudesse». Assim, o «espírito» desta posição difere claramente do de [Benjamim] Franklin: o que ali é considerado expressão de audácia comercial e de uma tendência pessoal, moralmente indiferente, é aqui tomado como carácter de uma máxima de vida de cunho ético. É neste sentido específico que é aqui utilizado o conceito de «espírito do capitalismo»".
Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
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