Sempre me interroguei sobre aquelas apreciações em que os críticos elogiam, sublinham, canonizam a "imperfeição da obra", como se essas falhas, essas arestas por polir, emprestassem à obra um rosto mais humano (mais falível, et pour cause...) e, por isso, mais genial. No fundo, a ideia do génio, do sublime, como algo criado pelo homem e, portanto, imperfeitos como ele. Imortal, eterno, sim; mas terreno, temporal, abaixo da divindade.
O mistério inerente a essa adjectivação, tão cara à crítica cultural (literária, musical, ...), adensou-se-me agora que oiço o novo álbum de Gramatik. Ao ouvirmos Beatz & Pieces Vol. 1, depois de passarmos em revista todas as faixas, a sensação que nos fica é uma: a de perfeição. Tudo é harmónico, tudo é excitante.
Mas em que ficamos, agora? Por ser perfeita e, portanto, supomos, menos humana (mas como, se a mão criadora é humana?!), a obra não é genial? Ou é menos genial que a obra imperfeita?
Ou aceitamos que não há obras perfeitas (e eu estarei contra!), ou, então, o elogio à imperfeição corre o risco de se esvaziar de sentido.
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