Até Ver a Luz (2013), Basil da Cunha.
Nos idos de 2011, irritado com a pretensiosidade (de genuinidade sociológica) de Sangue do Meu Sangue, escrevi que "ao forçar um retrato de uma realidade social degradada como o faz, Canijo já não está a falar (só) de Portugal. E colocar meia dúzia de “bandeiras” nacionais (música pimba, relatos de futebol, etc.) não altera essa evidência".
Em 2013, encontramos precisamente o inverso do filme de Canijo: Até Ver a Luz é um olhar nu e honesto sobre a mesma realidade (a marginalidade do ghetto), mas agora sem bandeiras nem etiquetas - sem estereótipos, portanto (curiosíssimo notar como o combate aos estereótipos pode descambar no seu reforço...). Acresce o que de poético - e é muito! - o novo filme de Basil da Cunha transporta consigo (quase apetece falar, não fossemos traídos pelo conceptualismo, em "realismo poético"...), coisa perfeitamente ausente de Sangue do Meu Sangue, que, reclamando a bandeira do realismo, resvala para uma pornografia (que é ficção, que é simulacro, para chamar Jean Baudrillad) do real (alguém falou em "pornografia da tortura" para se referir a Só Deus Perdoa, pois permitam-me agora a adaptação).
Filme belíssimo para ver na noite que é a sala de cinema, nessa penumbra por onde (sobre)vivem os Sombras de todos os dias.
Filme belíssimo para ver na noite que é a sala de cinema, nessa penumbra por onde (sobre)vivem os Sombras de todos os dias.
Sem comentários:
Enviar um comentário