terça-feira, 8 de outubro de 2013

Walsh #3 - Crítica "Fruta Louca" (Raridades)



Fruta Louca (1956), de Kô Nakahira.

O meu último artigo para o À pala de Walsh debruça-se sobre o filme Fruta Louca (1956), de Kô Nakahira, e está já disponível para leitura aqui ao lado.
Filme pouco visto e lembrado (daí a sua inclusão na rubrica Raridades) que, a despeito do retrato de uma geração de jovens japoneses idiossincrática (a geração Tayozoku), foi preponderante para toda uma nova forma de fazer e pensar o cinema japonês - a Nuberu Bagu, "vaga" com afinidades com as outras (desde logo a francesa) que, pelos anos 60, varreram o cinema um pouco por todo o globo.

Num dos primeiros planos do filme (um plano americano), Haruji (Masahiko Tsugawa) é filmado, de frente, conduzindo uma lancha: é um rosto desorientado e perturbado o que vemos, próprio de quem – saberemos mais tarde – procura alguém, mas, sobretudo, procura algo: um rumo, um caminho, que, metonimicamente, são os que toda uma geração de jovens japoneses, a bem dizer, perseguia à época. Desse plano americano (que, gradual e claustrofobicamente, se convola num grande plano, espécie de aprisionamento psicológico progressivo da personagem, imerso na sua obsessão) saberemos, também mais adiante, pertencer à sequência final do filme: ou seja, o filme abre e fecha exactamente do mesmo modo, sintoma de que algo de errado perpassa esta geração, no sentido de que aquela perturbação não fica “resolvida” no filme, antes andando em círculo, sem saída. É a utilização da circularidade como factor indiciário da obsessão ou paranóia, sugestão que se repete, “plasticamente”, no final do filme, na cena (de um silêncio aterrorizante) em que Haruji descreve repetidas voltas em torno do barco onde se encontram Eri e o seu irmão, antes do acto final. Foi, assim, com essas voltas infernais, doentias, que Kurutta kajitsu abriu (escancarou…) a porta a pelo menos três dos temas-chave da revolução da Nuberu Bagu, da qual foi um prenúncio: o desejo, a obsessão, a morte.

(Excerto)


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