Há muitas noites em que chego à rua de minha casa e, ainda cá em baixo, antes de entrar no prédio, levanto a cabeça e olho para a sala do meu vizinho, pela janela. Está invariavelmente escura e, por isso, apenas vejo reflectidos no tecto em madeira os clarões, brancos e azulados, dos filmes que, àquela hora da noite, por gosto ou por insónia, ele vê, recluso deitado no sofá, como gosto de imaginar. Não foi nestes clarões assombrados, fantasmáticos, carregando o ar de psicadelismo, que nasceu o meu amor pelo cinema, mas gostava de poder dizer que sim.
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