"Ler Platão ou Shakespeare não significa ter acesso a conteúdos cognitivos ou, ainda menos, a valores que eles tenham veiculado. Muitas vezes é reconhecer coisas em que tínhamos pensado, mas ditas por outras pessoas. Wittgenstein disse num prefácio de um dos seus livros que este só seria percebido por pessoas que já tivessem pensado aqueles pensamentos. (...) Há 2500 anos, Platão observou, astutamente, que a experiência principal da aprendizagem é a anamnésica, é uma experiê...ncia de rememoração. Como se disséssemos: 'Ah, estou a lembrar-me de uma coisa que afinal sabia!'. (...) Estamos a lembrar-nos de pensamentos que podíamos ter tido ou já tivemos. Imagine alguém que está a assistir a uma representação do 'Rei Lear'. Logo no início, ouve a Cordélia dizer: 'Eu não consigo içar o coração até à boca'. E pensa: 'É extraordinário como eu já pensei isto'".
(Miguel Tamen em entrevista à LER, Primavera 2018, n. 148)
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