quinta-feira, 6 de setembro de 2018

nunca
te poderias chamar
maria vinagre
o nome na placa da estrada
de que tanto
gostas, tamanha
a doçura que
os veios azuis dos teus
seios arenosos
carreiam, rodelas alaranjadas (como as de
um tronco rachado a meio)
de que um dia a minha boca
se socorreu sem delas nunca ter
sabido levedar o
seu fluído vital
(ou, pelo menos, conservá-lo,
já não teria sido mau)

grãos que noutros
seios braços
pernas entupiriam o normal
funcionamento do trânsito exigindo
a sirene que obriga a que todos se atolem nos passeios
ou as seringas periodicamente
cravadas na pele
mas
que em ti
constituem a sanguínea sacarina
que a eterna, humilde dificuldade em amorenar
teimosamente realça

por outras
palavras que ingenuamente julgo
menos complicadas
tento-to explicar
ao jantar em
mil fontes mil razões
para eu ter endurecido
enrijecido, horas antes
de te fotografar na costa lunar
os dois braços no ar
como quando o Wenders filmou aquela rapariguita
a gritar para a câmara vou para lisboa!

destas rodelas alaranjadas como as de
um tronco rachado a meio
me socorri
a vida inteira e se
alguma vez mordi foi por ainda
não ter aprendido a pegar
nos talheres
colocar o guardanapo no colo
por levar o prato até à travessa e não
o inverso
é põe que se diz
não é mete, advertes

socorrer-te-ei com as minhas
duas mãos
pois dentes
só os que a almofada um dia
fantasiou numa manhã como
as outras em que acordas mais cedo
do que todos e munida
de varinhas de açúcar
vais socorrer
os que não são teus filhos.

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