sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024



Talvez que a estocada final de Poor Things (“E viveu como uma cabra para sempre”, como a moral de um fairy tale de pernas para o ar, embora, para ser rigoroso, a hipótese da implantação de um cérebro humano numa cabra seja bem mais cruel do que a inversa que sucede no filme) não seja, afinal, exactamente o que parece (o cumprir de uma agenda semi-revanchista bem ao sabor do zeitgeist), mas, sim, a subterrânea insinuação de que os outrora vencidos (a Mulher), uma vez vencedores, tratarão os anteriores opressores como estes os trataram a eles (uma farpa, então, bem funda na predita agenda). De como, em qualquer revolução, a hipótese de uma verdadeira superação do status quo jamais é concebível, representando, antes e apenas, uma transferência de poder, logo, de dominação, violência, desumanidade (literal, no caso). Le roi est mort, vive le roi; Il Gattopardo; etc., etc..
... Talvez.

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