sexta-feira, 13 de junho de 2008

Hip Hop Pessoa


Aniversário de Fernando Pessoa festejado com poemas e hip-hop nacional. Editora Loop pretende cruzar a poesia de Pessoa com a música.
No dia em que se assinalam os 120 anos sobre o nascimento de Fernando Pessoa, a Casa Fernando Pessoa, a Câmara de Lisboa e a editora discográfica Loop organizam um espectáculo de hip-hop no Terreiro do Paço, na capital.
Intitulado "Hip Hop Pessoa", o espectáculo conta com 14 músicos de hip-hop, que aceitaram o desafio de recriar a poesia de Pessoa e de a transformar para o concerto (em Setembro nascerá um disco com o mesmo conceito com estes e outros artistas). Os escritos do poeta serão evocados por alguns dos mais conhecidos nomes do movimento como Melo D, Maze e Fuse, Rocky Marsiano, Sagas, DJ Ride e Sam the Kid.
A base são os poemas de Fernando Pessoa, a voz, a abordagem e o ritmo são dos rappers. Cada um pegou nos poemas de maneira diferente tornando-os um pouco seus. "Há quem tenha pegado em excertos de poemas, como, por exemplo, o pai de Sam the Kid", explica Rui Miguel Abreu. Já Fuse, dos Dealema, "reinterpretou parte da 'Mensagem' e usou o poema quase como um estímulo para a sua própria imaginação".
Sam the Kid, nome artístico de Samuel Mira, um dos responsáveis pelo crescimento do hip-hop nacional, recorda ao JPN como conheceu o poeta. "Há dois anos tinham-me oferecido um livro dele, fiquei a conhecer minimamente", afirma.
O poema escolhido pelo rapper e pelo pai foi "Tabacaria", do heterónimo Álvaro de Campos. "Identifiquei-me bastante com o poema e tem lá um verso que me fez ver que tinha de ser aquele 'Sonhar mais que Napoleão' porque o meu pai chama-se Napoleão", conta.
"Pontos de contacto naturais"
Para Sam the Kid existe uma relação entre Fernando Pessoa e hip-hop: a poesia. "Os dois são poesia e estão relacionados, apesar da métrica e da linguagem serem diferentes", defende.
Para Rui Miguel Abreu, editor e programador do evento, a realização do concerto e o futuro lançamento do CD têm vários significados, mas "o mais importante é que se começa a perceber que a cultura não é assim uma coisa tão séria que não admita este tipo de encontros".
"Para nós significa a possibilidade de cruzar a poesia de um enorme poeta moderno português com a música de uma série de pessoas que estão eles próprios, à sua maneira, a revolucionar a música", acrescenta. "Pessoa foi um poeta profundamente moderno, não apenas na maneira como encarou a língua, mas como pensou todas as questões de ser português, de estar no mundo estando em Portugal. O hip-hop faz a mesma coisa, é outra maneira de olhar para a realidade. São pontos de contacto naturais".
Estimular o interesse dos mais jovens pela obra de Pessoa é uma das ideias deste projecto. "Se dois miúdos lerem Fernando Pessoa por causa do disco já me sinto feliz", diz o dono da Loop. "Esperamos que sirva como estímulo, para despertar, quanto mais não seja, a curiosidade de quem é a pessoa que estes MC [rappers] estão a cantar. Um dos pontos que mais nos honraria era que isso acontecesse".

Fernando Pessoa, Hip Hop, Música, Hip Hop... a Palavra!


vejam também a reportagem de hoje no suplemento ípsilon do Público, pág.16/17.

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