House by the River (1950), Fritz Lang.
Como uma reminiscência, voltei ao meu Dezembro languiano em Lisboa e voltei a escrever sobre um filme de Fritz Lang, desta feita House by the River (A Casa À Beira do Rio, 1950), um dos melhores filmes que vi (estreias e não-estreias, em sala e em casa) em 2013 e, também, um dos filmes menos vistos do próprio Lang. Na verdade, vendo bem as coisas, não se tratou de uma reminiscência qualquer; nessa noite, meia hora depois de sair da Cinemateca, estava em casa a rabiscar uma data de apontamentos sobre o filme. É isso que podem encontrar, de modo mais organizado, na minha crítica (clicar).
O “rio” do título, ou, melhor dizendo, as suas águas – com as quais, aliás, o filme abre magistralmente (quase um minuto e meio a planar pelo rio) –, talvez forneçam a chave definidora do filme: “I hate this river”, comenta, angustiadamente, Mrs. Ambrose, a empregada do escritor Stephen Byrne (Louis Hayward), quando repara num animal que passa a boiar no rio defronte da casa. Ao que Stephen, muito placidamente, lhe responde: “It’s people who should be blamed for the filth, not the river” (tudo com um espantalho sinistro no enquadramento do plano). (...) A frase tem um alcance profundíssimo (que, numa primeira impressão, pode não transparecer imediatamente): a visão materialista (no sentido filosófico) de responsabilidade moral que lhe está subjacente – não será por acaso que, num lugarejo americano à beira-rio como aquele (conservador, como se supõe), Deus não é invocado, salvo erro, uma única vez, assim se sublinhando a sua ausência/impotência ante a corrupção moral – pretende significar que a culpa pelo que de mal acontece no mundo reside nos comportamentos humanos, e não no acaso ou num qualquer castigo da mão divina.
(Excerto)
Sem comentários:
Enviar um comentário