Vamos para a última curta, as cadeiras totalmente ocupadas, gente sentada e deitada nas escadas e nos varandins do auditório, e um dos presentes, numa louvável associação entre as condições térmicas que se fazem sentir e o défice cultural que ainda vitima a cidade, exclama bem alto: "ESTÁ MUITO CALOR! É PRECISO UMA CINEMATECA PARA PÔR ESTA GENTE TODA!". Ouvem-se palmas. Primeiro tímidas, depois um pouco mais exuberantes. Ainda assim, poucas, insuficientes. Uns segundos depois, novo ribombar: "ONDE ESTÁ A MASSA CRÍTICA?". No vai-não vai de novo pregão, e ninguém poderá afirmar que dali não podia nascer uma rebelião que só pararia já de madrugada no governo central, a curta começa. Sentados, siderados. Sai-se, fuma-se um cigarro, duas ou três impressões, casa. O cinema é o ópio do povo.
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