Já não via este senhor velhinho há muito tempo, talvez um ano. E, tal como da última vez que o vi, interpelou-me da mesma forma. Sentado no muro da entrada de uma casa, com um certo ar desorientado, olhou-me nos olhos e, com um ar muito sério, exasperado, indignado, até, disse-me: "Olhe lá, ande mais devagar!". Só isto. E eu, já na passada, envergonhado, a disfarçar o sorriso, o meu peito e o meu fato a encolherem. Não quero andar mais devagar, penso, mas, precisamente enquanto penso, enquanto me retenho naquela frase, metafórica até ao tutano, desacelero o passo. Talvez o velho não saiba - tenho quase a certeza que sim, há muita ironia naquela frase -, mas o que disse vai directo ao fundo de mim, provavelmente porque a vida que levo - acelerada - não é, nunca foi, a que imaginei que viveria. Não é coisa que me desagrade, mas sobre a qual não deixo de me interrogar, nem que seja para me confrontar comigo mesmo, para me apalpar e lembrar-me do Francisco que cresceu feliz em Requesende com o Papá e a Mamã, o Tiago Grande e o Senhor Cunha, mais tarde o Lucas.
Sem comentários:
Enviar um comentário