celebrámos a palavra na
cama
como todas as coisas devem ser celebradas
(quase todas)
a luz a entrar demasiado cedo no teu quarto
intrusões que não compões
armados de uma filosofia imbatível, apuradíssima, coada pelos muitos e derrotados dias, celebrámos
Não
(no princípio não era o Verbo, foi
a quietude do substantivo
olhos que dispensam mãos e coxas se tudo
o que queremos
é fixidez
o contrário da
acção, berlindes
que se devoram, imobilizados)
deixámos para amanhã o que podíamos fazer hoje, contrariámos o
universal e absoluto princípio
da eficiência. fora com esses
tecnocratas!
fizemo-nos revolucionários da espera
inaugurámos o comité da paciência
vírgula da
demora
e do
tactear
Pê Dê Tê! Pê Dê Tê! Pê Dê Tê!
prometemos corpos que cantarão amanhãs
mas só cantarão amanhãs
amanhã
hoje,
não
hoje,
Não é
a palavra
amanhã será com certeza
outra
promessas nada vãs para quem
nos quisesse ouvir ou
ver
como esse teimoso e furtivo sol
partículas alienígenas que te doiram a franja
migalhas que não limpo
copo de água que tombo
pelas tuas costas
a enxurrada cobre-me dos pés à cabeça
tu não vês
(o frio não se vê)
e novamente
Não
vai tu primeiro, eu
vou a seguir
separaste assim as águas
sim, Não! claro, Não, Não
e Não
monossílabos crescem orgulhosamente em nós, rebentam em
afirmativas esplendorosas que nos elevam
do chão
literalmente, digo
a já não sei quantos mil pés de altitude de ti
vou ao Nimas fazer tempo
ignorando que me falarás da Marine
(os fantasmas conhecem-se, já devia saber)
seres
teres sido
só
projecção
?
se as sombras do teu quarto não desapareceram
quando a luz
entrou
projector estragado.
bobinas que se emaranham no peito.
larguem-me, deixem-me as veias em paz
sangue quer correr livremente
na cabeça o
botão
ligar
desligar
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