Entrevista com Júlio Bressane no ípsilon da última sexta-feira - tendo o ciclo desta semana no Rivoli sido cancelado em virtude de The Thing, fica um rebuçado extra que não entrou no texto publicado
"Essa [o facto de 'Matou a Família e Foi ao Cinema' ter sido filmado em 16 milímetros e depois ampliado para 35 milímetros] é a violência do filme: a violência do grão! Foi a violência de colocar aquilo como protagonista do filme. Agora, isso, evidentemente, precisava de um certo ...tempo para que você pudesse ter esse tipo de leitura. A impropriedade do momento é tão grande que todo o mundo é capaz de dar opinião sobre qualquer coisa naquele momento. É forçado a dar uma opinião! É a força da circunstância, você é obrigado a dizer: “Este filme é bom”, “Aquela obra é ruim”… É uma espécie de câimbra mental! Alguém já disse isso com bastante propriedade: as coisas precisam de 50 anos. Depois de 50 anos, elas já não têm mais importância, e aí você pode ter uma visão mais correcta. É preciso ter a velha ideia de um velho filósofo alemão muito lido aqui na Europa [Walter Benjamin]: a questão da imagem-dialéctica. Uma imagem que você deveria ter de um ponto, de um momento muito longínquo, e que fizesse esse momento vir até ao agora. E você veria toda aquela distância percorrida, aquelas muitas constelações de tempo juntas... Isso sim, era a imagem-dialéctica, você via a nebulosa inteira. Mas não é possível isso.
Estou dizendo isso por causa da questão da violência e de como foi percebida no 'Matou ...' Não só percebida; o filme passou 25 anos preso na censura. Não foi nunca exibido, só conhecido. O 'O Anjo Nasceu' nunca foi exibido em público, passou na televisão uma ou outra vez... Mas são filmes que deixaram marcas profundas no nosso cinema e que foram objecto de bastante discussão. .. marcas em gramas! Com 22 anos, houve forças que trabalharam em mim que eu hoje posso dizer que eram forças involuntárias… Passaram por você, você estava ali e se misturou e transformou com elas".
Sem comentários:
Enviar um comentário