(A Vida Invisível, 2019, Karim Aïnouz)
"Aïnouz sublinha, uma e outra vez, a possibilidade de Eurídice e sua irmã, Guida, serem uma e uma só pessoa. (…) Esta hipótese, de uma união quebrada em dois retratos do feminino encontra justificativo no posicionamento do brinco que cada uma carrega: Guida traz o pendente no lóbulo da orelha enquanto Eurídice o carrega num fio, junto ao peito. E aí revela-se a complementaridade que as liga e repele: a mais cerebral leva o brinco junto ao peito, a mais emotiva trá-lo junto à cabeça; e aquela que sempre admirou os dotes musicais da irmã tem-no junto ao ouvido, enquanto aquela que sempre se deliciou com as descrições do encontros carnais da outra o traz junto às mamas. É nesse binómio, entre razão e tesão, que o realizador, finalmente, se liberta da extrema contenção que vinha caracterizando os seus últimos filmes (…)".
(Ricardo Vieira Lisboa, em À pala de Walsh: http://www.apaladewalsh.com/2020/02/a-vida-invisivel-two-girls-one-cup/)
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